Há um indisfarçável mal estar no ar. As conversas entre amigos só contam com um tema: a corrupção. A fragilidade moral demonstrada por algumas autoridades e seus assessores é calamitosa.
Todos os dias, o noticiário é idêntico. Só se altera a região geográfica. O conteúdo é de uma semelhança amarga. Lá no Acre como aqui na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo o mesmo espetáculo.
O aproveitamento dos cargos públicos para o enriquecimento imediato. Já não se fala na nobreza da riqueza obtida pelo trabalho. O que importa é recolher numerário a qualquer custo.
Perderam-se os limites entre o bem e o mal. A marginalidade fez escola e venceu. É produto do consumismo desenfreado que atingiu a todas as sociedades e, por via de conseqüência, a brasileira.
Ninguém espera para obter o ganho lícito. Tudo tem que ser imediato. Rápido como as imagens de um seriado de televisão. Já não há valores morais. Uma escala de deveres.
Só existem olhos para o ganho fácil. É triste constatar que as lições de nossos antepassados foram por água abaixo. O que aconteceu? É pergunta de difícil resposta.
Rompeu-se a tradicional harmonia – forçada é bem verdade – existente no mundo rural. Nas cidades as pessoas são individualidades isoladas. Independentes. Não devem nada a ninguém.
Este isolamento superou a velha e boa “polícia dos vizinhos” indicada pelas Ordenações do Reino. Ninguém é vizinho de ninguém. As autoridades tradicionais – o padre, o juiz e o delegado – perderam-se na massificação.
Nada restou dos costumes assentados. Foram para o espaço. Vale tudo. Neste cenário de fragilidade moral a corrupção grassa em campo fértil. Todos se sentem livres para agir de acordo com seus interesses imediatos.
Perderam-se os valores nacionais. Clamam os pólos centrais de Poder pela globalização. A perda da soberania. Nas escolas já não se fala sobre a Pátria e a nacionalidade.
Falta, por toda a parte, civismo. A crença na brasilidade. Naqueles valores tão caros aos nossos antepassados. São Paulo, para tomar um único exemplo, era terra de gente simples.
A casa paulista era de uma austeridade digna de Francisco de Assis. Hoje, os novos ricos – ricos não se sabe como – querem ostentar. Mostrar poder barroco. Aparecer nas colunas sociais pelos mais esdrúxulos motivos.
Não vai dar certo. Vamos de mal a pior. As fugas psicológicas aumentam. O jovem ingressa na criminalidade. Avança no caminho das drogas. Todos querem viver um mundo irreal.
As fugas das obrigações tornaram-se regra. São estreitos os espaços de convivência entre pessoas que ainda acreditam. Trabalham. Constroem. Uma ruína ética se amontoa a cada dia.
É necessária uma reação. Deve-se perder a vergonha de ser honesto. De acreditar em valores éticos. Preservar elementos que permitam a permanência de uma sociedade sadia.
As igrejas necessitam fazer um exame de consciência. Os empresários edificar exemplos de bom convívio entre o capital e o trabalho. Os professores – os novos mártires – transmitir exemplos de abnegação.
Chega de exaltar o cafajeste. O canalha. O sem caráter. Já chegou a hora de retorno aos valores de sempre da sociedade. É por egoísmo que o retorno é exigido. Salvar o ser humano.
A caminhada atual é para o abismo. Este está próximo. Só não vê quem não quer.
Autor: Cláudio Lembo – Advogado e professor.
Leave a Reply