O semialfabetizado político

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“Ingênuo, o semialfabetizado político acha que tem plena consciência dos seus atos e escolhas. Fantoche, não sente as cordas que movem seus braços e mãos quando levanta seus cartazes, quando atira as suas pedras e quebra as suas vidraças”

Por: Rudolfo Lago

Com o perdão de Brecht, eu acho que tão ruim quanto o analfabeto político é o semialfabetizado político.

O semialfabetizado político não é exatamente aquele que recebeu apenas os rudimentos do aprendizado político. É, na verdade, aquele que compreendeu a política de uma maneira parcial. Ele até pode ter lido boa parte da literatura política mais profunda. Mas leu apenas aquilo que interessava aos gurus que o iniciaram.

O semialfabetizado político não é aquele que compreendeu que a política é o modo encontrado pela sociedade para exercer a sua cidadania. Ele é apenas um convertido a uma certa forma de religião. Ele compreende a política como uma espécie de seita. Como uma revelação. E adere a ela de forma absoluta, fundamentalista, entusiasmada, redentora.

O tolo não compreende que a política é apenas mais uma ferramenta da vida em sociedade. E que, assim, ela é exercida por seres humanos. Com todas as nuances e complexidades inerentes aos seres humanos. Para o semialfabetizado político, porém, só há preto ou branco. Só há o bem – que está ao seu lado – e o mal – exercido por todos os outros.

Ingênuo, o semialfabetizado político acha que tem plena consciência dos seus atos e escolhas. Ele não enxerga que, na verdade, faz apenas aquilo que mandam os seus gurus. Repete apenas os mantras e as palavras de ordem que eles lhes ordenam. Fantoche, não sente as cordas que movem seus braços e mãos quando levanta seus cartazes, quando atira as suas pedras e quebra as suas vidraças.

Ele não vê que, na política, o indivíduo mais forte e poderoso é ele mesmo. Porque é somente ele quem, diante das suas opções, pode definir o seu destino e, junto com os outros, define o destino dos demais, da sua cidade, do seu estado, de seu país, do mundo. Passivamente, ele entrega todo esse poder nas mãos de outros, a quem sempre seguirá sem discussão, sem questionamentos.

Para ele, aqueles que escolhe como gurus são gênios infalíveis. Donos de um comovedor espírito público. Não há interesses particulares nos seus gestos. Há somente uma generosidade sem limites, voltada sempre para a conquista do bem maior, da felicidade suprema da humanidade. Perigosamente, ele acha que seu guru é uma espécie de deus ou anjo. E não há deuses e anjos caminhando na face da Terra.

Tenho medo do semialfabetizado político. Porque é da sua ingenuidade maniqueísta que nascem – de um lado ou de outro – Hitler e Stalin.

Congresso em foco

 

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