Coluna A Tarde: A corrupção na Saúde

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Por: Samuel Celestino

 

Em nada adianta o governo da União criar o programa “Mais Médicos” quando é incapaz de realizar o que lhe compete, ou seja, fiscalizar como estão sendo realizadas as distribuições de recursos aos municípios, que os recebem como “verba carimbada”, ou seja, que não pode ser utilizada para qualquer outro fim a não ser a Saúde. Varre o interior, e os exemplos dados foram diversos municípios baianos, cuja população carente, quando consegue atendimento médico, após meses, a consulta é feita em três minutos e até em pouco mais de um minuto.


A denúncia realizada neste domingo pelo programa “Fantástico”, reportagem do excelente jornalista baiano José Raimundo, demonstrou que os prefeitos praticam a corrupção através de meios escusos, como a utilização de cooperativas de saúde, que se tornaram praga no interior da Bahia (e, creio, no País de modo geral) que enriquecem os diretores das cooperativas e os prefeitos, que recebem dinheiro vivo, 48 horas depois de fechado o “negócio” manchado pela corrupção e pela vida perdida dos brasileiros.


Como admitir-se que o governo federal encaminhe os recursos e não os fiscalize para ter certeza da forma correta da sua aplicação? Naturalmente que a grande maioria dos médicos, presumo, não aceite propinas, mas muitos as embolsam desvergonhadamente, sabendo que ele, médico, é uma peça importante no processo de corrupção. Se os recursos públicos para a saúde fossem bem aplicados, seriam, é verdade, necessários mais médicos, mas a situação nas áreas rurais (e urbanas) do interior do País não seriam esta lástima permeadas por corruptos, das tais cooperativas canalhas, dos médicos não menos, que se locupletam com o dinheiro público por absoluta falta de fiscalização, e dos prefeitos larápios. Não se pode assegurar que não seja assim com o dinheiro da Secretaria d e Saúde estadual, mas ela não foi citada na matéria.


Dessa forma, pergunta-se porque um deputado federal que exerce mandato na Câmara, em Brasília, sonha em deixar o mandato para ser candidato a prefeitos nos municípios mais longínquos e despreparados, sem nenhuma condição de oferecer, uma melhor qualidade de vida? Aí está a resposta, embora não se deva alastrá-la para todos. Há os que gostem da vida mansa no interior, mas, creio, são poucos, pouquíssimos. Convém se desconfiar de todos os que realizam esta mudança.


O golpe é relatado pelo “Fantástico” de forma simples mais eficiente. As cooperativas abrem escritórios para atender os prefeitos ou os seus encarregados que os procuram e dizem os recursos que são destinados ao município. Se o valor a ser gasto durante um mês nos postos de saúde dos municípios (o que poderá ser, na realidade, muito menor)  é de R$500 mil, as cooperativas cobram R$750 mil e, abertamente, diz que os R$250 mil excedentes serão rateados para o presidente da cooperativa e para o prefeito que recebe a sua parte em 48 ou 72 horas depois do repasse do recurso “em dinheiro vivo”, portanto, como um deles afirmou ao repórter, sem saber com quem, na verdade, falava, se m problemas com o Imposto de Renda.

 

Um País que tem um serviço de saúde dessa ordem, que tenta evitar fraudes remetendo o dinheiro “carimbado”, consequentemente com destino certo, mas não o fiscaliza de sorte a evitar as malandragens e o enriquecimento ilícito dos prefeitos e das cooperativas de saúde, não é, definitivamente não é, um País sério. Quanto mais mandar dinheiro, mais ele será devorado pela corrupção. A questão é que poucos municípios, principalmente da Bahia, têm Ministério Público para ficar atento, nem, muito menos, juiz, porque cerca de 40 comarcas do interior não dispõe de magistrados, embora nem todas tenham condições de abrigar um juiz, não somente por falta de trabalho, tamanha a pobreza, como pela ausência de local digno para abrigá-lo.


De outra forma, a presidente Dilma faz política com a entrega de retro-escavadeiras a prefeitos, seguida de uma fotografia, e um aperto de mão. Em muitos casos estas máquinas têm grande serventia, mas, em alguns municípios, elas são canibalizadas com o desmanche e a venda de peças ou, de outra forma, ficam enferrujando sem uso porque, naturalmente, necessitam de quem as comande e de diesel como combustível, enquanto os recursos municipais são parcos. Assim, o menos que se quer é que a presidente esteja a toda hora nos estados (foi a presidente que, até agora, mais viajou para os estados) fazendo política e somente isso. O que se deseja é que o governo da União seja eficiente, realize uma forma d e fiscalizar os gastos, combata tenazmente a corrupção e não fique (não Dilma), mas seu partido diante do leite derramado em consequência da prisão dos mensaleiros corruptos. Todos se dizem depois da condenação e em frente ao presídio da Papuda que “sofreram uma injustiça”. A Papuda acaba se transformando num espaço de santos.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (10).

 

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