Por: Itamar Garcez *
O mau humor da esquerda exacerbou-se nesses tempos em que ela vê seus projetos, e o Brasil, desmoronando por sua obra e graça. De acordo com a visão sinistra, o mundo com o PT no poder era de redenção dos pobres. Agora que os companheiros foram dele apeados, vive-se um calvário.
Fácil entender isso quando se descortina o caráter sectário da esquerda. De acordo com concepção histórica peculiar, somente ela tem a procuração para falar em nome dos pobres e a chave da sociedade sem injustiças.
Parte dessa grei realmente acredita nisso. Para ela, o País que rumava para a salvação com a presidente Dilma Rousseff (PT), a afastada, três meses depois caminha para o inferno na terra.
Ora, o Brasil herdado do lulopetismo é o mesmo Brasil anterior a 12 de maio, quando o Senado afastou a presidente. A economia em pandarecos e a ética esmigalhada permanecem esterilizando o solo tupiniquim. Afora o descrédito na política, a principal herança do PT aos brasileiros.
Até por que o presidente Michel Temer (PMDB), o interino, não adotou até aqui modelo distinto de gestão. Fez promessas de mudanças acentuadas, mas, por enquanto, beneficiou os mesmos: servidores públicos, governadores e parlamentares.
No entanto, em que pese um cenário ainda deteriorado há uma mudança, tênue ainda, dos humores nacionais. Esta tendência já foi constatada em pesquisa.
Índice criado pela .MAP em parceria com Heron do Carmo (FEA-USP e IBGE) indica que o brasileiro está mais otimista. De acordo com as edições do Valor Econômico de 5 e 12 de agosto, o IP Brasil chegou a 49% em julho – o índice anterior era de 31%.
Na interpretação de Marilia Stabile, sócia da .MAP, o novo índice deixou “para trás um período com trajetória de crise aguda, com menor volatilidade e melhora das percepções”. Pode ser um primeiro passo. Afinal, acreditar que as coisas vão melhorar gera expectativa positiva, o que impulsiona tanto a vida pessoal quanto o ambiente de negócios.
Senão, vejamos. Nunca antes nesse País houve tantos larápios endinheirados na cadeia ou sendo investigados. Empreiteiro, banqueiro, executivo, publicitário, político etc. O descaminho dos propinodutos prossegue sendo decifrado. E parte dos dinheiros surrupiados já voltou aos cofres públicos.
As condenações que se sucedem parecem indicar que a elite brasileira, tradicionalmente inalcançável pela justiça, está mais distante da impunidade. Elite, entenda-se, não a que o PT usa como recurso retórico para taxar os adversários, mas a que é abastada, tem o condão de mandar e a sanha de roubar – como alguns companheiros no exercício do poder.
“O Brasil está melhorando”
Dois políticos tradicionais já detectaram essa mudança de perspectiva. Ibsen Pinheiro (PMDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados e condutor do processo de impedimento do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, faz parte do rol dos otimistas. “(…), seja o resultado que for [do impeachment de Dilma], o dia seguinte será melhor”, disse ele.
Igualmente experiente, o deputado Miro Teixeira (Rede) foi no mesmo caminho: “O Brasil está melhorando”. E explica: “Aquilo que antes ficava escondido embaixo dos tapetes do poder, agora é exibido para a população. E as pessoas vão ser investigadas e presas”.
Miro, onze vezes deputado, prossegue elencando as mudanças positivas. “A pessoa se sentia autorizada a escalar uma função pública para roubar. No momento em que a impunidade deixa de ser um artigo de luxo à disposição ali na prateleira para essas pessoas usarem, a governabilidade melhora muito”.
Octogenário, Ibsen destaca que o impeachment fortalece a democracia, pois é pela política que a crise está sendo arbitrada. Reforça seu argumento com uma evidência histórica: o fim do “período democrático”.
“Chega de período democrático. O que estamos vivendo agora não é mais período. É constante”, completa, lembrando que foram democráticos os processos que afastaram Fernando Collor e Dilma Rousseff. É isso. Um pouco de otimismo e bom humor faz bem.
* Itamar Garcez é jornalista
Publicação O GLOBO
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