Por Ilimar Franco
Há um padrão de conduta nos enterros envolvendo personalidades políticas. Eles têm sido, ao longo da história do Brasil, instrumentos de ação e louvação político eleitoral.
Pesquisas jornalísticas, e na internet, registram as manifestações ocorridas nas mortes de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Antonio Carlos Magalhães, Luiz Eduardo Magalhães, Miguel Arraes, Eduardo Campos, Mário Covas e Leonel Brizola.
A intensidade das manifestações está relacionada ao peso do morto e às circunstâncias em que estas mortes e enterros ocorrem. A morte de Getúlio Vargas provocou um quebra-quebra em várias capitais do país. Talvez se possa compará-la ao momento em que morre Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, no contexto do turbilhão provocado pela Lava-Jato.
Estas mortes resultam em comoção, solidariedade entre adversários e ressaltam nomes esquecidos e importantes da história do país. Tancredo Neves, Antonio Carlos Magalhães e JK.
Candidato ao governo da Bahia em 1998, Luiz Eduardo Magalhães morreu antes de a campanha iniciar. No primeiro programa de sua coligação, que tinha 11 minutos e 51 segundos, a louvação a Luiz Eduardo ocupou 9 minutos e 45 segundos. Só então foi apresentado aos telespectadores seu sucessor, César Borges.
O enterro de Eduardo Campos foi marcado pela política. Dilma e Lula foram vaiados. O deputado Jarbas Vasconcelos declarou que a presença de Dilma era falsa. E o coordenador da campanha do socialista, Maurício Rands, deu como fato consumado que Marina Silva tomaria seu lugar.
O ex-presidente do PT e da Petrobras, José Eduardo Dutra, foi vaiado no cemitério, durante o trajeto do caixão até sua cova. Sempre é possível debater se isso é certo ou errado. Há quem condene. Há quem aposte na oportunidade. Mas o fato concreto é que estas manifestações podem ser vistas com naturalidade, pois não representam uma exceção. (Publicado no O Globo)
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