A disputa pelos votos órfãos
Lula está preso. Joaquim Barbosa, agora, fora da disputa eleitoral. Juntos, os dois tinham 39% das intenções de voto, segundo a última pesquisa do Datafolha. Percentual suficiente para garantir um segundo turno a qualquer candidato. A novidade da semana – a desistência de Joaquim – levou à pergunta óbvia: os eleitores órfãos desses candidatos vão para onde?
Quem tenta responder pode olhar para os números, mas também para os candidatos. No mesmo dia em que Joaquim tuitou anunciando sua decisão, alguns políticos já se apresentaram como herdeiros do espólio. O deputado Jair Bolsonaro, embora de matiz ideológico diverso do do ex-ministro do STF, apressou-se a dizer que caberá a ele assumir o discurso do combate à corrupção.
Já o tucano Geraldo Alckmin, que ainda tenta se firmar para ir ao segundo turno, preferiu mirar na legenda viúva da candidatura Joaquim: o PSB. O ex-governador paulista lembrou que é preciso ver o que o partido vai fazer.
Um mirou no discurso que o eleitor parece querer ouvir, outro apostou na importância da estrutura partidária para a consolidação de uma candidatura.
Mas e os números? A mesma pesquisa que deu a Lula 31% das intenções de voto e a Joaquim 8% também dá indicações da migração no caso do petista, porque foram feitos cenários sem o nome do ex-presidente. Dos potenciais votos de Lula, 10 pontos percentuais foram se juntar aos brancos e nulos. Ou seja, esse eleitor não quer, por enquanto, saber de nenhuma das opções postas. O restante se espalhou. Foi para Marina, Ciro, Joaquim, Boulos, Fernando Haddad e até para Bolsonaro.
E os órfãos de Joaquim? A maior parte de seus eleitores tem nível superior e renda acima de 5 salários mínimos, geralmente um público ligado ao noticiário sobre as idas e vindas desse mundo onde o meio jurídico – a origem de Joaquim – e também o político se veem às voltas com os escândalos de corrupção. Votos que viram no ex-relator do caso do mensalão, que sequer tinha se declarado candidato, uma opção para o país.
O eleitor anda querendo ouvir o canto da moralidade, teorizam os analistas de intenções de voto. Se é isso mesmo, os candidatos ainda vão precisar convencer os eleitores de que pegaram o bastão largado pelo ex-ministro do STF.
O vídeo que Temer preferia não ter visto
Aparentemente, outro possível candidato desistiu do pleito deste ano: o presidente Michel Temer. Pelo menos é o que ele tem comentado com pessoas próximas. A notícia veio na mesma semana em que o ex-ministro, aliado e amigo Geddel Vieira Lima virou réu no Supremo. A decisão da Corte ressuscita na memória aquele vídeo de senhoras de uniforme, noite adentro, contando o dinheiro apreendido pela Polícia Federal num apartamento da Bahia. Temer já é investigado por seus supostos atos. Ter um subordinado direto réu e preso pode não ajudar quem sonhava em ficar mais tempo no Palácio no Planalto.
Fora do foro
A fila só começou a andar. A lista dos processos que vão deixar o Supremo com a redução do benefício do foro privilegiado ainda está na casa dos 50. Mas, à medida que os relatores fizerem o pente-fino, mais ações e inquéritos seguirão o caminho da primeira instância. No meio político há duas apostas: contribuir para acabar com a impunidade e atrapalhar campanhas este ano ou levar os processos a uma nova e longa tramitação pelo Judiciário.
Francisco Leali, coordenador da sucursal de Brasília (Publicado por O GLOBO)
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