Em Sergipe e Pernambuco, 71% dos municípios registraram presença do óleo em suas praias; representante se queixa de falta de ajuda
Raphael Kapa
09/10/2019 – 21:35 / Atualizado em 09/10/2019 – 22:03
Novos dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam que quase 40% das cidades litorâneas do Nordeste já foram afetadas pela borra de petróleo que chegou no litoral desde o início de setembro. De acordo com a prefeitura de Piaçabuçu, em Alagoas, resquício do vazamento foi encontrado na foz do rio São Francisco.
Os nove estados nordestinos foram impactados, mas com intensidades diferentes. Sergipe e Pernambuco tiveram 71% de suas cidades litorâneas com ocorrências de presença de óleo. Em seguida aparecem os estados do Maranhão, com 66%, e Paraíba, com 60%.
Rio Grande do Norte teve 43% dos seus municípios no litoral afetados enquanto Ceará teve 35%. Entre os que tiveram menor impacto, estão Piauí (25%), Maranhão (24%) e Bahia (8,5%).
Na segunda-feira, o ministro do meio-ambiente Ricardo Salles disse que equipes do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) recolheram mais de 100 toneladas de borra de petróleo na costa do Nordeste.
Foz do São Francisco
O secretário de Turismo e Meio Ambiente de Piaçabuçu, em Alagoas, Otávio Augusto Nascimento afirmou que foi encontrado resquício do derrame na foz do rio São Francisco.
— O volume não foi grande, mas apresenta uma ameaça de contaminação. A gente não sabe onde vai parar. O São Francisco já sofre com sobrecarga para gerar energia, poluição e assoreamento. O rio não suporta mais um impacto como esse.
Nascimento também pontuou a falta de apoio do governo federal.
— A gente precisa entender qual foi o problema e o governo ainda não disse isso. Não recebemos uma ligação do ministro, uma fala de ajuda. Não sabemos se eles enxergam a gente no cenário de catástrofe ambiental que estamos — afirma Nascimento, que elogia o apoio de técnicos do Ibama do ICM-Bio.
Chegada das manchas no litoral
As primeiras manchas surgiram no litoral de Pernambuco , no início de setembro. Depois, material semelhante foi encontrado na Paraíba , Alagoas , Rio Grande do Norte e se espalhando para o Ceará , Piauí e Maranhão . Por fim, o material chegou ao estado da Bahia no último dia 3.
O governo de Sergipe decretou estado de emergência nos municípios atingidos pelo óleo. As medidas tomadas foram por conta do surgimento de extensa mancha de óleo na praia dos Artistas, em Coroa do Meio. A praia foi interditada devido à presença do material, que é tóxico.
Segundo a Adema (Administração Estadual do Meio Ambiente), esta é a maior concentração da substância já encontrada nos nove estados nordestinos afetados pelo derramamento de petróleo cru desde o mês passado.
A Petrobras afirma que o material trata-se de petróleo cru e que não é compatível com substratos extraídos no Brasil.
A fauna marinha está sofrendo com a poluição do petróleo cru encontrado no litoral de todos os estados do Nordeste brasileiro. Pelo menos 19 animais apareceram cobertos com a substância.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) determinou em um decreto, publicado no sábado (5), investigação sobre as causas e de quem é a responsabilidade sobre o derramamento de óleo que vem atingindo a costa nordestina há um mês.
No despacho, Bolsonaro determinou que sejam apresentados, no prazo de 48h, dados coletados e as providências tomadas sobre o problema ambiental.
A investigação deve ser feita pela Polícia Federal, Comando da Marinha, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
A Polícia Federal instaurou inquérito, no último dia 2, para investigar o derramamento de óleo no litoral do Nordeste. O MPF (Ministério Público Federal) no estado também apura o desastre ambiental.
Na semana passada, a ÉPOCA revelou que a Petrobras encaminhou um laudo sigiloso ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em que aponta a hipótese de o óleo ser venezuelano. A revista apurou a informação com três fontes distintas. Além disso, apesar de o Ibama ter informado em nota à imprensa que o óleo que contamina diferentes praias é o mesmo, o órgão trabalha com a hipótese de que existe mais de uma fonte de contaminação.
Fonte: O GLOBO
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