Casos desaceleraram em setembro em todo o país, com exceção de Goiás e Amazonas
Findo o mês de setembro, o número mensal de mortos por Covid-19 caiu pela segunda vez no Brasil, desta vez numa queda percentual (-23%) de quase o dobro da queda registrada um mês antes (-12%). Os números reforçam tendência de desaceleração da epidemia no país.
A maior parte da redução foi puxada por São Paulo, por representar uma fatia grande em números absolutos, e por Minas Gerais e Bahia, que tiveram reduções acentuadas de um mês para o outro.
Apenas dois estados registraram alta na comparação entre agosto e setembro. Um deles foi Goiás, que ainda está no auge do pico da doença, e o outro foi o Amazonas, onde parece despontar uma segunda onda.
Segundo Pasternak, outra chave para entender a dinâmica da pandemia é o número de pessoas suscetíveis que circulam em cada local.
— A queda no número de mortes tem outros dois motivos: o primeiro é a diminuição de pessoas suscetíveis a serem infectadas pelo vírus, e o outro fator é que existe um aprendizado médico importante de como lidar com a doença que diminui o número de mortes, porque os médicos já conhecem melhor como a doença age no organismo e quais são as maneiras de intervir e de tratar.
Nova onda?
Se o Brasil vai viver uma segunda onda de Covid-19, como países europeus experimentaram, vai depender de como a política de reabertura gradual implementada em vários estados vai se dar.
— Quando vamos reinserindo os suscetíveis na dinâmica de mobilidade da cidade, a tendência é que a taxa de transmissão volte a subir — diz Pasternak. — Com a reabertura das escolas, colocamos em circulação uma grande quantidade de pessoas, porque a escola mobiliza muita gente, são professores, funcionários, estudantes, pais, que vão precisar se deslocar na cidade.
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— O que eles estão vendo é um aumento de casos que não se associa ao aumento de mortes ou internações com evolução grave.
Segundo o infectologista, o perfil mais jovem de doentes que se vê agora na Europa é similar ao que o próprio Rio de Janeiro mostra.
— São jovens que ficaram isolados antes e que agora saem para ir na (rua) Dias Ferreira ou à praia — explica. — Por serem jovens, resultam em menos casos graves, mas o que eles estão fazendo é expor seus pais e avós, ainda que deste outro grupo muitos já tenham sido expostos ao vírus antes.
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Para Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e infectologista do laboratório Sérgio Franco, ainda há motivo para se preocupar com o Rio:
— O Rio de Janeiro ainda está complicado, pois o percentual de novos casos e óbitos se estabilizou num patamar alto e não cai.
Apesar de a epidemia fluminense ter tido um início similar à paulista, por exemplo, com o fechamento de escolas e comércio quase simultâneos, a dinâmica da Covid-19 foi diferente.
— Comparando as duas capitais, é possível ver já uma diferença, pois São Paulo teve uma queda consistente, enquanto o Rio teve queda e subida, com estabilização em um patamar alto — indica Chebabo.
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O médico destaca o papel de alguns estados em puxar para baixo a média nacional.
—São Paulo e Bahia fizeram, de certa forma, o “dever de casa” e estão com a queda sustentada, puxando o número do Brasil para baixo.
Curvas descoladas
Um fenômeno estranho que se apresenta na epidemia brasileira é que a curva de mortes pareceu ter uma dinâmica à frente da curva de casos. Segundo Schechter, da UFRJ, porém, esse fenômeno é um artifício que deriva da deficiência de testagem do Brasil. Como há mais testes sendo feitos só agora, há mais diagnósticos positivos com critério clínico e mais notificação. E ele concorda que o aprendizado dos médicos proporciona uma redução no número de mortes, interferindo na taxa de letalidade do vírus. Dentro dos hospitais, diz, o principal fator de influência é a experiência dos médicos com medidas de suporte e mudanças nos protocolos para cuidar da respiração dos pacientes.
— (A queda de óbitos) Não tem nada a ver com remédio A ou remédio B — diz o professor da UFRJ.
Mauro Schechter, professor de infectologia da UFRJ, afirma que mesmo com a expectativa de um aumento de casos após a reabertura, há motivos para esperar que as mortes não cresçam tanto, com base na experiência de países europeus.
Outros estados que têm grande número acumulado de mortos, como Rio de Janeiro e Ceará, tiveram picos de morte há mais de três meses, estão relativamente estáveis e não contribuíram tanto para a redução entre agosto e setembro.
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Para a microbiologista Natália Pasternak, colunista do GLOBO e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), apesar de as epidemias terem momentos distintos em diferentes estados, há alguns aspectos nacionais que ajudam a explicar o número geral dos óbitos por coronavírus.
— Acredito que a adesão à quarentena e o uso de máscaras contribuíram para essa queda. É importante dar esse retorno para a população para mostrar que o esforço dela foi recompensado, e que vale a pena cumprir as medidas de quarentena — diz a cientista.
Fonte: O GLOBO
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