Tarcísio e Marçal em alta, Lula e Bolsonaro em baixa: veja quem sobe e quem desce após as eleições

, , Leave a comment

Por Hugo Henud– 28/10/2024 | 09h04

Resultados de 2024 indicaram possíveis cenários para 2026, com destaque para o fortalecimento dos partidos do Centrão, especialmente o PSD de Kassab; disputa enfraqueceu partidos de esquerda e figuras tradicionais

As eleições de 2024 revelaram mais do que apenas os prefeitos e vereadores que estarão no comando dos municípios brasileiros nos próximos quatro anos; os resultados também deram indicativos para 2026, fortalecendo partidos do Centrão, especialmente o PSD, que conquistou o maior número de prefeituras do País, além de nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB).

Em contrapartida, a disputa municipal enfraqueceu siglas como o PSDB e partidos de esquerda, que tiveram um desempenho eleitoral aquém do esperado. A polarização representada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também perdeu força neste pleito.

Tarcísio sai como um dos grandes vencedores ao bancar o apoio a Ricardo Nunes (MDB) na corrida para a Prefeitura de São Paulo, mesmo diante da hesitação de Bolsonaro em respaldar o emedebista — especialmente após a ascensão de Marçal nas pesquisas, como explica Vinicius Alves, diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) Analítica e professor de ciência política do IDP.

Marçal, por sua vez, é outro nome que, na avaliação de Alves, sai fortalecido: mesmo sem chegar ao segundo turno, o ex-coach mostrou-se competitivo e desponta como uma nova liderança à direita.

“Foi o acontecimento mais surpreendente desse pleito. O nível de competitividade de Marçal não poderia ser antecipado durante a pré-campanha e pode ter efeitos no quadro político nacional. Ele fez isso tudo sem apoio de outros partidos e fundo eleitoral”, afirma Alves.

Veja os nomes fortalecidos e os enfraquecidos
após os resultados das eleições

Centro e direita avançam nas principais capitais, com Gilberto Kassab e Tarcísio de Freitas entre os principais nomes fortalecidos, enquanto a esquerda tem desempenho aquém do esperado; PSB e polarização estão entre os maiores derrotados

SOBE

PARTIDOS DO CENTRÃO: Nas capitais e grandes centros urbanos, partidos como PSD, MDB, União Brasil, PP, esiteveram entre os mais vitoriosos nestas eleições.

Gilberto Kassab: Presidente e fundador do PSD, partido que conquistou o maior número de prefeituras nas eleições municipais, Kassab reforçou seu poder de articulação e consolidou seu papel de destaque nas alianças políticas nacionais.

Tarcísio de Freitas: Fortaleceu-se ao sustentar o apoio a Ricardo Nunes em São Paulo, consolidando sua liderança para 2026.

Eduardo Paes: Reeleito no primeiro turno para a prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes se consolida como um dos principais nomes para a disputa pelo governo do estado em 2026.

João Campos: Reeleito no primeiro turno como prefeito de Recife, João Campos consolidou-se como um dos favoritos para a disputa do governo de Pernambuco em 2026, destacando-se como uma das poucas exceções à queda da esquerda nas grandes cidades.

Pablo Marçal: Mesmo sem ir ao segundo turno, foi competitivo e desponta como nova liderança à direita.

DESCE

PSDB: O partido teve o pior resultado de sua história, não elegendo nenhum prefeito nestas eleições e sem conseguir levar nenhum candidato ao segundo turno.

BOLSONARO: O crescimento do PL, partido de Jair Bolsonaro, não compensou a perda de liderança do próprio Bolsonaro, especialmente pela falta de apoio claro a Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo.

PARTIDO DE ESQUERDA: Os partidos de esquerda enfrentaram dificuldades nas periferias e em seus redutos tradicionais, perdendo espaço em capitais e grandes centros urbanos nestas eleições.

LULA e PT: Apesar de eleger mais prefeituras, o partido continua encolhendo desde 2016 e perdeu redutos importantes como o ABC paulista. Além disso, o apoio direto de Lula não se traduziu em vitórias expressivas em várias cidades-chave.

POLARIZAÇÃO: A política tradicional e pragmática predominou, enquanto figuras polarizadoras tiveram menos impacto do que o esperado, sugerindo uma redução na polarização.

JUSTIÇA ELEITORALSai enfraquecida após as eleições de 2024 devido às críticas à legislação eleitoral, cujas multas, frente ao financiamento público de campanhas, são consideradas ineficazes.

Partidos do Centrão, Kassab e exceções à esquerda

Entre as siglas, os partidos do Centrão — PSD, MDB, União Brasil e PP — ganharam destaque ao conquistar 3.500 municípios para a gestão que se iniciará em 2025, o que equivale a 62% das cidades brasileiras. Alves ressalta que esta eleição será lembrada pelo fortalecimento e resiliência desses partidos, que lançaram candidaturas competitivas em diversos municípios, principalmente nas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores, que concentram uma fatia expressiva do eleitorado.

O cientista político destaca o PSD, vitorioso em 887 municípios, o que fortalece ainda mais a sigla e a consolida para futuras articulações, com potencial para ocupar uma posição semelhante à historicamente desempenhada pelo MDB — um partido capaz de dialogar com diferentes grupos e integrar tendências tanto à esquerda quanto à direita. O comandante da sigla, Gilberto Kassab, surge também como um dos grandes vencedores destas eleições.

No campo da esquerda, o cientista político Antonio Lavareda destaca nomes como Eduardo Paes (PSD), reeleito no primeiro turno e consolidado como um forte candidato ao governo do Rio de Janeiro em 2026, além de João Campos (PSB), igualmente reeleito em Recife, também sem a necessidade de segundo turno.

Lula, Bolsonaro, partidos de esquerda e a polarização como principais perdedores

Na avaliação de Lavareda, a reticência de Bolsonaro em declarar apoio a Nunes em São Paulo fez com que o ex-presidente perdesse parte de sua liderança no campo da direita, apesar do bom desempenho do PL nas eleições municipais. Da mesma forma, o apoio de Lula não se traduziu em vitórias expressivas em várias cidades-chave, como São Paulo, onde a chapa Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) não saiu vitoriosa.

O cientista político também observa que a polarização entre Lula e Bolsonaro, que parecia se intensificar nas eleições municipais, foi a grande derrotada, dando espaço ao fortalecimento dos partidos do Centrão.

Os partidos de esquerda, por sua vez, saíram igualmente enfraquecidos, perdendo espaço no Ceará (apesar da vitória apertada do petista Evandro Leitão em Fortaleza) e em várias capitais, além de enfrentarem dificuldades nas periferias e em redutos tradicionais. Para Lavareda, após as eleições, as legendas que compõem esse campo político precisam rever sua comunicação para alcançar grupos que poderiam ser aliados, mas que se afastam por não se identificarem com todas as pautas mais tradicionais da esquerda brasileira.

Fonte: JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO

 

Leave a Reply