O trono da democracia

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Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia hpolvora@gmail.com

É como dizem: apesar dos seus defeitos, a democracia é de longe o melhor sistema de governo. Sejamos, pois, democratas.

Mas até que ponto nós, povão, somos representados nesta democracia brasileira, por sinal uma das mais efetivas do mundo, neste momento? A dúvida transparece a partir do processo de escolha dos candidatos.Poucas vezes forma-se consenso em torno de nomes à Presidência da República. A indicação não resulta de um desejo e de uma sintonia nacionais. Os postulantes nos são apresentados em definitivo, sem opção. Resta escolher um e votar.

Os partidos se encarregam de ajuizar e agir por nós. Seguem o fluxo dos interesses políticos de seus próceres e deságuam no estuário das alianças. Da vida partidária não participamos, por negligência ou nojo. E das convenções, muito menos – ou zero.

Resta então o voto. Apenas e com suficiência o voto. Teria de contemplar o candidato que julgamos o mais aconselhável nas circunstâncias. Um voto sábio, consciente.

Há nove pretendentes ao trono. Uns poucos se impuseram nos últimos anos graças ao exercício do poder. Outros, desconhecidos, entraram na corrida para engrossar dividendos políticos. Constituem todos eles uma elite, no sentido puramente econômico e no exercício de privilégios de que gozam por obra e arte da ação política.

Parece miragem uma representatividade que, segundo os teóricos, vem da base, que somos nós, e que se legitimaria, no seu curso, à sombra da nossa aquiescência – votante ou muda, indiferente ou desgostosa.

A suspeita de elitismo se robustece pela informação de que o pleito presidencial deste ano custará R$ 463 milhões, em campanhas.

Certamente nesta cifra não estão incluídos os extravasamentos do chamado caixa2. O mais grave é que, no seu conduto de afirmação eleitoral, o candidato assume com os financiadores compromissos que não passam pela consulta popular.

Esse diagnóstico doloroso nos faz pensar em plutocracia – forma de governo oligárquico.

As cidades-estados medievais eram assim governadas. Castas, elitistas.

Transcrito do Jornal ATARDE – Edição 11/07/2010

 

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