EDITORIAL
Pela voz de Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, e José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, o Congresso anunciou um esforço concentrado depois do recesso oficial de 17 a 31 de julho, a que se seguirá o recesso branco das campanhas eleitorais.
Será longo o período de inatividade, e remunerado.
“Esforço concentrado” é figura de retórica.
Supõe trabalho árduo para compensar recessos, quando, na verdade, significará neste ano eleitoral apenas seis dias de plenário, em agosto e setembro. Fora disso, os parlamentares cuidarão de seus interesses, empenhados na reeleição. Mais de dois meses na suada caça ao voto.
A Câmara abriga 513 deputados. Cada um leva dos cofres públicos, somadas verbas, vantagens e serviços que vão da moradia gratuita à conta ilimitada do celular, passando pelo plano de saúde, entre R$ 99 mil e R$ 125 mil mensais. O Senado contempla 81 pares com valores mensais unitários de R$ 120 mil a R$ 145 mil.
O exercício do mandato gera dispêndios dignos de alta cobiça. Os parlamentares desfrutam entre seus principais benefícios de passagens aéreas, fretamento de aeronaves, cota postal e telefônica, combustíveis, consultorias, divulgação do mandato, aluguel de escritórios, materiais de expediente, assinatura de publicações e serviços de TV e internet, além da contratação de segurança privada.
Uma cota adoça o exercício parlamentar no Brasil: o Cotão, no jargão dos deputados.
O aumentativo se justifica, pois cobre todas as despesas. Chega a R$ 35 mil mensais por cabeça, a depender do Estado de origem do deputado. Este tem 13º salário, havendo mais dois salários extras no Senado. Acima do padrão de lordes e marajás.
Com o esforço concentrado, espécie de cortina de fumaça e falsa justificativa de privilégios, o deputado e o senador se habilitam a novo mandato, insensíveis à cobrança de esforço em toda a legislatura, dia a dia,mês a mês – e não na retórica dos simuladores.
Transcrito do Jornal ATARDE – Edição de 15/07/2010
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