Newton Sobral
Jornalista
newtonsobral@atarde.com.br
A aceitação geral do gol roubado (utilizando o braço) de Luís Fabiano contra a Costa do Marfim, na Copa do Mundo – “parece que todos fizeram um ar de paisagem, pois o fim justificou o meio, precisava ganhar” – inspirou excelente artigo do médium José Medrado. Fazendo analogia entre o episódio e a crise moral que atravessamos, ele foi objetivo: “Desonestidade, engano e falta de caráter é algo intrínseco e altamente difundido na maioria das atividades que se desenvolvem neste País. Nada tem escapado ao uso do ‘jeitinho brasileiro’, do cinismo e da dissimulação”.
Medrado não entrou em detalhes. Mas sintetizou com clareza a nossa revolta ante a impunidade dos responsáveis pela epidemia de escândalos estabelecida no País após a ascensão do PT. Corrupção sempre existiu, é óbvio, mas a partir do governo Lula assumiu dimensões até então desconhecidas. E passei a matutar sobre os motivos do agravamento de tal prática que só denigre a administração petista.
Os desonestos, pensei, chegam ao poder através do voto. Lembrei-me, então, que o eleitor, responsável pela presença deles nos palácios, foi maciçamente catequizado durante anos pelo PT. Daí a ausência, por certo, de uma consciência crítica mais aguçada, situação resultante, sem dúvida, da competente máquina publicitária.
Não consegui, no entanto, encontrar explicação para o fato de um líder como Luiz Inácio, amadurecido nas portas das fábricas do ABC pregando ética e lisura na condução do bem público, ter mudado tanto. Fiquei na dúvida se foi ele quem levou o PT à trilha da leniência e mesmo do apoio à corrupção, ou o contrário. Mas a realidade é que hoje nega o passado ao apertar mãos nada limpas de políticos como Paulo Maluf, Fernando Collor e Severino Cavalcanti.
Medrado, profundo conhecedor dos mistérios da alma humana e de quem sou grande admirador, talvez pudesse dar uma explicação para mudança tão radical no comportamento ético do presidente. Jamais um mero agnóstico e aprendiz de ateu. Desisti.
Transcrito do Jornal ATARDE- Edição de 16/07/2010
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