Na semana passada escrevi um post sobre ação recorrente do presidente Lula contra a legislação eleitoral e lembrando que o resultado foi muito positivo para a candidatura da ex-ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), que saiu de inexpressivos 5% de indicações dos eleitores para a liderança da corrida sucessória presidencial. Este é um fato incontestável: de forma premeditada, o dirigente maior do País optou por ferir a lei, sabendo de antemão que o lucro seria muito maior do que o valor a ser pago com as multas emitidas pela Justiça eleitoral.
Mas isto não quer dizer que a oposição, mais especificamente o PSDB e o DEM, também não se utilizou do mesmo expediente. Pelo contrário, José Serra, quando governador de São Paulo, desandou a circular pelo País numa clara campanha eleitoral antecipada, dançando forró no Nordeste e participando até de aniversário de boneca pelo Brasil afora.
Quando o PT desafiou a lei, colocando o presidente Lula para pedir votos para Dilma no programa eleitoral da legenda, a reação do PSDB foi fazer exatamente o mesmo. E, para não ficar atrás, extrapolou: além do partido, os tucanos usaram os horários destinados ao DEM e ao PTB.
Os dois lados apenas estão se aproveitando da hipocrisia que rege nossa legislação eleitoral, muito rígida teoricamente, mas cheia de brechas que fazem a alegria dos marqueteiros das campanhas dos candidatos. Por fim, é o que se viu nas últimas semanas: Lula fez elogios públicos à sua candidata, no lançamento do trem-bala (Rio de Janeiro-São Paulo), mas o PSDB nem pensa em acionar a Justiça Eleitoral – como fez antes, em outras infrações cometidas pelo presidente.
E isto por uma razão simples: no Estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do País e onde os tucanos esperam levar uma grande vantagem sobre o PT, o governador Alberto Goldman, que era vice-governador de José Serra, não se cansa de cantar em versos e prosa o nome do seu candidato à Presidência da República, cometendo o mesmo crime do seu principal adversário.
Este é um daqueles casos em que a imoralidade deve ser jogada para baixo do tapete porque denunciá-la é pior para os dois lados. Assim, sem precisar ter havido nenhum acordo formal ou informal, as duas legendas preferem se calar ante os crimes mútuos.
E firmam um pacto em favor da hipocrisia nacional.
Análise do comentarista Paixão Barbosa – A TARDE ON LINE
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