Continuação da entrevista com o Senador César Borges
Política Hoje: Chegou a afirmar…
Borges: É, chegou a afirmar que estava certo. Eu nunca afirmei. Vocês são casadas? Um casamento se realiza quando os dois dizem sim. Se um diz sim e o outro diz não, não há casamento. Então, eu dizia a mesma coisa: “Não há casamento enquanto os dois não disserem sim”. Eu nunca disse sim, eu apenas conversava. Eu conversei naturalmente porque eu fui chamado a este tipo de conversa. Para mim também não fazia mal conversar, eu não tenho medo de conversar. Até porque, considero também que quando me criticam, seja lá pelo partido do DEM, seja lá pelo partido do PT, me criticam sem força. Não fazem uma crítica, que eu diria, que tenha franqueza, que seja uma crítica… porque me queriam lá. Está tudo gravado na imprensa, na mídia…
Política Hoje: E por que o senhor optou pelo PMDB ao invés do DEM, no caso?
Borges: Vou lhe dizer, muito bem, porque: O DEM apoiando o José Serra, meu partido apoiando Dilma. Então, se eu tinha uma relação construída com o presidente Lula, com o Alfredo que era ministro do presidente Lula, que é presidente hoje do meu partido, eu não ia ficar contra o meu partido nacionalmente. Já é uma dificuldade. Esse já foi um ponto. Segundo: Eu voltaria na área ligada ao Paulo Souto que eu saí exatamente para ter liberdade. Então, fiz uma opção, achei que Geddel é o novo. Geddel representa uma nova proposta. Seria um demérito para Paulo Souto que já foi duas vezes governador, mas eu também já fui. Acho que as oportunidades têm que ser dada aos outros, tem que ter alternância; não tem problema em ter alternância… O governador Wagner, eu já falei aqui as razões, para vocês, políticas e também do ponto administrativo eu tenho minhas… Sempre tive minhas reservas, sempre tive, nos pontos que eu achei fraco na administração Wagner que veio com uma proposta de mudança para melhor e ela não aconteceu.
Política Hoje: Quais são as principais críticas, senador?
Borges: Do ponto de vista do serviço público, se tem deficiências graves em áreas importantes, como a segurança, onde a criminalidade aumentou de forma estúpida nesse período de governo, se tem deficiências na saúde e tem deficiências na educação. Foram três setores que eu não vi avançar, a Bahia. Se você olhar do ponto de vista do desenvolvimento do governo do Estado, o governo também não criou nada de novo no desenvolvimento do Estado. Nós não tiramos nenhum gargalho que nós tínhamos: não criamos nem portos, nem aeroportos, nem ferrovias, não criamos gargalos. Os projetos ainda são projetos que estão em maturação. Então são essas as deficiências do governo. É um governo que é muito mais do proselitismo, do discurso, do que da ação. Eu vejo muitos artigos assim: “As conquistas maiores são imateriais”. Eu não vejo essas conquistas imateriais. Conquistas aqui na Bahia a nível de desenvolvimento social vieram através de uma política do governo federal e rebateu no estado. Como eu falei, distribuição de renda, Bolsa Família, o programa Luz no Campo (Luz para Todos), programas federais que foram rebatidos aqui na Bahia. Você não vê uma grande obra… Eu pergunto qual é a grande marca deste governo? Me dê uma ação na educação, na segurança, que tenha marcado a presença do Estado, no setor industrial, no desenvolvimento agrícola, você não vê uma marca específica do governo.
Política Hoje: Então o senhor considera que o governador Wagner pegou muita carona?
Borges: Não. Eu acho que ele pegou ainda muito pouca carona. Porque, já que ele se diz amigo do presidente Lula, amigo, fundador do PT, ele usa isso como uma alavanca política, uma escora política tremenda. Devia conseguir muito e muito mais carona, devia conseguir muito mais coisas para a Bahia. Eu acho que ele conseguiu pouco. Porque algumas políticas são genéricas do governo Lula que foi para o Brasil todo e que rebatem na Bahia, mas as específicas para a Bahia do governo federal são poucas. Se você considerar o que o Eduardo Campos conseguiu para Pernambuco ou Cid Gomes conseguiu para o Ceará é muito mais do que, relativamente, a proporção, claro, da economia – porque você não pode comparar a economia da Bahia que quase o dobro da economia de Pernambuco e a economia do Ceará, pelo menos quando eu saí do governo a economia da Bahia era o somatório da economia de Pernambuco com a do Ceará – então não adianta comparar dados da Bahia com do Ceará ou com Pernambuco. Tem que comparar relativamente o que é a economia da Bahia e o que é a economia… Hoje o Ceará e Pernambuco vivem um impulso muito grande, que a Bahia não deu. Porque o Wagner não usou essa amizade, nem teve, nem brigou pelas coisas da Bahia e o que você conquista vem de luta.
Política Hoje: Senador, mas, se houvesse um acordo com o governador, o senhor entraria na chapa mesmo assim, mesmo com essas “deficiências”, do governador Jaques Wagner?
Borges: Não, veja bem, essa questão administrativa é fundamental, essas questões são fundamentais. Agora, como eu fui chamado para conversar, eu conversei com o governador – politicamente, está certo? E tinha também os aspectos administrativos que às vezes falávamos. Olha, o Extremo Sul da Bahia. A situação do governo é uma situação que não é boa, porque não tem realizações. Quer dizer, essa parte administrativa sempre pesou. Tanto que eu não apoiei o governo. Eu fui procurado. Iniciei uma conversa passa por ouvir meus companheiros, discutir meu eleitorado e, no fim, eu vim fazendo um apanhado dos pró e contras nos aspectos administrativos e nos aspectos políticos e vi que não era conveniente minha presença lá.
Política Hoje: O senhor falou agora, pediu para a gente fazer uma comparação dos números das últimas pesquisas, que o senhor tem muitos mais votos do que Geddel. O senhor seria, então, uma alavanca para Geddel, estaria ajudando o Geddel a subir?
Borges: Olha, se eu puder e estiver nas minhas condições de ajudar Geddel a subir, eu farei tudo que for possível. A pergunta sua eu não tenho essa resposta esmiuçada, talvez só uma pesquisa qualitativa possa indicar, tá? Mas eu diria que Geddel tem uma grande estrutura política. O PMDB é um partido forte, organizado nacionalmente e localmente, por isso eu acredito no crescimento de Geddel, não é? Agora, eu usei aquele argumento aqui para desfazer um argumento que ela trouxe aqui do Otto Alencar, que eu vim para Geddel para ser empurrado por Geddel. Aí, neste caso, eu teria ficado abraçado com Wagner, não é? se eu fosse número de pesquisa. Ele saiu hoje com 44%, com 43%, eu tenho 34%. Então, foi para desmistificar. Não é que vá arrastar Geddel, não sei. Se depender de mim eu farei tudo para valer na campanha do Geddel.
Política Hoje: O futuro. O senhor ainda pretende ocupar algum cargo do Executivo… o que o senhor pensa de futuro, além dessa candidatura que está em vigência?
Borges: Não tenho nenhum projeto político para o futuro. Não guardo nenhuma ambição, nem desejo, vamos supor, ser prefeito de Salvador, ser governador do Estado. Já fui (governador), já cumpri meu papel, acho que estou bem no Senado, acho que o papel do senador é muito importante para a Bahia e posso fazer o meu papel de senador muito bem no próximo mandato, se eu conquistá-lo. Não passa por mim nenhuma ambição nessa linha. Quero me eleger senador para cumprir meu mandato todos dos dias como fiz no atual mandato. Nunca pedi licença, nunca pedi licença do Senado, nunca me afastei durante 8 anos do meu mandato de senador. E da mesma forma pretendo não mudar. Acho que você candidato já com pretensão, se aparecer ao longo da história como apareceu em 2002, 2004, apareceu na minha história para ser candidato a prefeito de Salvador, eu tive uma dificuldade muito grande de aceitar, porque eu tinha, realmente, a responsabilidade como senador. Hoje eu não tenho nenhuma ambição de ser candidato ao Executivo, se eu for eleito ao Senado, serei senador durante todo o meu mandato.
Fonte: Política Hoje
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