Não quero entrar aqui na questão de quem tem razão nesta história da quebra de sigilo dos dados fiscais por parte de funcionários da Receita Federal. Deixo para que investigações sérias, que nós sabemos sempre demoram mais do que o necessário neste Brasil velho de guerra, definam se realmente a intenção era reunir informações para formar dossiês contra os tucanos, se foi apenas ação de uma quadrilha especializada em vender informações sigilosas da Receita Federal ou até, como querem alguns, que tenha sido uma iniciativa dos próprios tucanos.
Uma coisa neste episódio, porém, tem me chamado a atenção, pelo absurdo que é: o comportamento do presidente Lula em relação às denúncias, tratando-as à base da brincadeira e procurando reduzi-las a uma simples “fofoca”. Tudo bem que ele é o principal cabo eleitoral da candidata Dilma Rousseff e não esteja gostando nada do noticiário sobre o assunto, por temer que possa causar algum desgaste na campanha do PT. Nesta condição, ele deseja minimizar o episódio e apagá-lo o mais rápido possível.
Porém, antes de tudo, ele é o presidente da República e tem por obrigação constitucional zelar pelo bem das instituições públicas e pelos direitos da cidadania, entre os quais está o do sigilo sobre os dados pessoais de cada um. Lula não pode, ao mesmo que diz ter determinado uma apuração rigorosa, discursar em palanques acusando o candidato do PSDB, José Serra, de estar “nervoso” com a perspectiva da derrota e de usar a família “para se fazer de vítima”.
O candidato tucano pode até estar mesmo nervoso com os resultados negativos que as pesquisas tem lhe reservado, mas isto não apaga o fato de que sua filha foi vítima de um crime e um crime muito mais sério por ter sido cometido por funcionários públicos, que têm o dever de proteger os cidadãos. Na condição de presidente, Lula tem a obrigação de tratar seriamente o assunto e de, nesta seara, tentar se manter imparcial, deixando que a investigação apure as responsabilidades.
O presidente chegou ao cúmulo do absurdo em seu comportamento neste episódio quando perguntou, à multidão, num dos seus comícios: “Cadê esse tal de sigilo que ninguém viu?”. Esta não é a postura que se espera de um presidente da República do Brasil, por maior índice de popularidade que ele carregue consigo. Como maior mandatário da nação, cabe a ele cuidar para que o princípio da lei e da moralidade seja o esteio maior das instituições do País.
Brincar com uma coisa tão séria nada de bom acrescenta à biografia do nosso operário-presidente.
Análise do comentarista Paixão Barbosa – ATARDE ONLINE
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