Por: Ismael Abreu
Ontem à noite recebi uma ligação de Euclides da Cunha do meu amigo Zezé Bastos, que disse como ficou bonito o centro da cidade com a inauguração de praças e com a colocação do asfalto na Avenida Ruy Barbosa. Falou-me também, sobre a fonte luminosa no jardim, com sua “Dança das Águas”.
Disse-lhe que ficava contente em saber que pelo menos alguma coisa de positivo estava sendo feito no nosso Município, e que iria conferir pessoalmente na próxima semana, quando lá estarei participando da Exposição de Ovinos e Caprinos organizada pela ACEC.
Após desligar o telefone, fiquei pensando nas pessoas, meus conterrâneos, meus amigos e nos diversos parentes que lá residem, e me senti um pouco triste, pois todos sabemos das verdadeiras necessidades do nosso Município, das precariedades dos serviços públicos, das deficiências nas áreas da saúde e da educação.
Sei que em época de eleição os políticos preferem priorizar as “obras”, pois estas lhes dão mais “retornos” e têm mais visibilidade. Mas o que realmente me entristece é a sensação de estarmos perdendo a compaixão. A compaixão que nos faz olhar por duas janelas: a nossa e a dos necessitados, aqueles que foram esquecidos, as vítimas da nossa indiferença.
Fico orgulhoso em ver uma cidade bonita, com suas praças e seus jardins bem cuidados. Porém, sei que só isso não basta para um verdadeiro avanço da cidadania; só isso não vai diminuir a angústia de uma mãe ver seus familiares sofrendo por não conseguir um atendimento médico digno, sem saber a quem apelar; só isso não vai acabar com a péssima qualidade do ensino público.
Como podemos nos deslumbrar ou nos emocionar com as “Danças das Águas”, quando temos diante de nossos olhos a ineficiência dos serviços públicos atingindo de forma tão cruel os mais necessitados, que não escolheu sua classe social, mas escolheu o seu governante, e nele depositou sua fé, sua esperança? Isso é algo que não devemos esquecer!
Mesmo que nossos familiares não tenham que amargar horas e horas de espera no hospital público ou nos postos de saúde; mesmo que os nossos filhos e netos não sejam vitimas das precárias e lamentáveis condições das escolas públicas; não devemos nos calar diante dessa situação se queremos um futuro melhor para o nosso povo e o nosso Município. Lembremo-nos o que diz Elie Wiesel; ”O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença”.
Se não somos carente e temos condições sociais que nos dão conforto é porque fomos contemplados pela loteria biológica do nosso nascimento. Em gratidão, devemos reconhecer a nossa dívida com os mais pobres, os necessitados, os esquecidos. Só com a participação de todos é que podemos mudar algo. Devemos nos colocar no lugar de cada um deles e lembrarmos que além da nossa família biológica, fazemos parte de uma família maior – a família humana. Não sejamos omissos, egoístas e antes de desistir vamos tentar. As pessoas esquecem o que falamos, o que fazemos, mas nunca esquecem como as fizemos sentir.
Devemos dar ao povo não só entretenimento, mas confiança, esperança e humanidade, pois os carentes e necessitados são pessoas como nós, com os mesmos sonhos e anseios.
Por tudo isso, devemos ter compaixão e olhar o nosso povo com os olhos da alma e ouvi-los com o ouvido do coração. Precisamos dar ao ser humano condições dignas de sobrevivência, garantindo-lhe atendimento médico e educação de boa qualidade. Precisamos sim, muito mais do que praças e asfalto!
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