Por Djalma Pinto*
Historicamente, no Brasil, a propaganda eleitoral não é pautada na seriedade. O candidato promete o que não vai cumprir. Campanha eleitoral não pode ser transformada em palco de disputa para saber quem engana melhor o eleitor e estimular uma reação ao abuso do direito no exercício da propaganda.
“O que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto.” Com essa provocação, o humorista Tiririca será um representante do povo para legislar e fiscalizar os atos do Executivo. A adesão dos eleitores comprova que a maioria não sabe qual a finalidade do mandato porque muitos, após eleitos, passaram a impressão de que o poder é fonte inesgotável de lucro.
A motivação de Tiririca em conquistar o mandato pela via do deboche atesta uma falha recorrente na educação até aqui ministrada no Brasil. Não há preocupação em preparar o homem para o exercício do poder, daí os sucessivos vexames de pessoas, cultas e incultas, ao exercerem os mais diversos cargos. Praticam ações, não em benefício da coletividade, mas visando à maximização do próprio patrimônio, sem devolução do dinheiro desviado.
Nem a escola nem a universidade ensinam que o mandato conquistado através do voto e a investidura em qualquer função pública destinam-se a que o cidadão, na condição de autoridade, faça o melhor de si em benefício do interesse coletivo, nunca para favorecer o próprio bolso. Essa omissão faz com que alguns, com estudos em grandes centros acadêmicos, atuem no exercício do poder com desvio de finalidade. Não oferecem, assim, boas lições à sociedade.
Nesse ambiente de distorções graves, em que os cargos são usados para favorecimento dos agentes públicos, sem reação eficaz, Tiririca encontrou espaço para mostrar com risos de melancolia que a sociedade não sabe o que é espírito público nem qual a finalidade do mandato. Um parlamento em que eleitores trocam voto por gargalhada ou por dinheiro vivo termina sem aplauso. A democracia pode até precisar de circo, mas quando o palhaço se converte em líder é porque os políticos estão transformando a República em piada de mau gosto.
* Djalma Pinto é advogado com atuação em direito eleitoral e ex-procurador geral do Estado do Ceará e autor do livro Marketing, política e sociedade, pela Cia. dos Livros Editora.
Transcrito do Política Livre
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