Um dos baluartes da imprensa livre, Hipólito José da Costa, disse que os jornais, por abrir os olhos aos ignorantes, livra-os de imposturas–males que governo algum, por mais esclarecido, logrará banir. São palavras de 1820. É surpreendente que, quase dois séculos depois, aqui se esteja a repeti-las em defesa da livre expressão no Brasil.
A democracia brasileira, segundo advertiu o jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, que deixou em 2005, corre o risco de cerceamento autoritarista. Para ontem, em São Paulo, centrais sindicais e outras facções vinculadas ao governo Lula, que as mantém e instiga, prometiam manifestação contra o que chamam“ golpismo da mídia”.Mesmo em época eleitoral, a imprensa não abstraia crítica e a denúncia.
Tal ato acompanha vociferações do governante contra a divulgação de escândalos, entre eles a quebra de sigilo fiscal e o balcão de negócios na Casa Civil. Entende o presidente que esses temas pedem espaço e oportunidade pós-eleitoral, para que o tratamento “equânime” dos candidatos ao Planalto imunize candidatura por ele coroada.
Juízos desse jaez, tão frágeis quanto pueris, acometem constantemente o presidente, como que a disfarçar intentos de absolutismo, na linha do modelo cubano-chinês que lhe vem de vizinhos latino-americanos empenhados em destroçar a imprensa em proveito de projetos de poder continuado. Ultimamente as queixas subiram de tom contra a mídia, que desejam freada, submissa – um instrumento partidário, a exemplo do Legislativo e de ameaça ao Judiciário.
Personalidades públicas, entre as quais juristas e intelectuais, anteciparam-se na quarta-feira, ainda em São Paulo, aos disfarçados anseios por um sistema nacional populista de amplitude. Conviria avivar aqui um parecer de Rui Barbosa: “(A imprensa) devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem”…
Este é o seu martírio.
Editorial de ATARDE – Edição de 24/09/2010
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