ARTIGO: Os oráculos tupiniquins

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Autor: Biaggio Talento*

A última fase da campanha eleitoral, vivida nesses dias que antecedem o pleito de domingo, é marcada pela batalha dos institutos de pesquisa que procuram antecipar quem serão os eleitos nas disputas majoritárias, principalmente o cargo de presidente da República. Esse ano a situação é curiosa devido a divergências nos prognósticos sobre a intenção de voto para o futuro ocupante do Palácio do Planalto.

Como se sabe, o Datafolha acenou com a possibilidade de haver segundo turno, enquanto Ibope e Vox Populi continuam com resultados que dão a vitória de Dilma Rousseff (PT), com relativa folga, no domingo.

Os candidatos, por sua vez tendem a valorizar as pesquisas favoráveis e desmerecer as desfavoráveis, fato comum na classe política. Há também os que se utilizam de pesquisas suspeitas para tentar influenciar o eleitor em seu favor. É o que parece estar ocorrendo em Alagoas, onde o Ministério Público Eleitoral move uma ação para cassar a candidatura de Fernando Collor (PTB) ao governo alagoano, por fraude.

Isso pelo fato de o jornal da família Collor, o Gazeta de Alagoas, ter realizando um “levantamento” no qual o ex-presidente aparece com 10 pontos de vantagem sobre seu principal concorrente Ronaldo Lessa (PDT). Na última sondagem do Ibope, Lessa tem 29% e Collor 28%. Ao examinar os 1055 formulários do “Gazeta Pesquisa”, o procurador Rodrigo Tenório constatou indícios fortes de malandragem.

Embora as pesquisas sérias sejam embasadas em metodologia científica, o sistema nem sempre é confiável e mais prudente é comemorar vitória somente após a totalização dos votos. Prever o futuro sempre foi uma das obsessões da humanidade. Heródoto, que é considerado o pai da História, contou um episódio lendário da Antiguidade que serviu para consolidar a fama do principal oráculo da Grécia.

Creso, rei da Lídia, resolveu promover um teste para descobrir qual o oráculo mais preciso entre os sete mais “confiáveis” que existiam nas terras banhadas pelo Mar Mediterrâneo. Como nas metodologias dos atuais instituto de pesquisas, as sacerdotisas desses templos previam o futuro a partir de técnicas diferenciadas: sonhos, inspiração de deuses gregos, ou de um insólito farfalhar das folhas de carvalho.

Os emissários de Creso levaram uma pergunta simples: o que o rei estaria fazendo em determinada data. As previsões foram anotadas e mantidas lacradas até o prazo estabelecido, após o qual Creso abriu as previsões, descobrindo que o Oráculo de Delfos, na Grécia, foi o vencedor.

A pitonisa de Delfos, templo dedicado a Apolo, escreveu, segundo transcrição de Heródoto: “Conto os grãos de areia na praia e meço o mar; entendo a fala do mudo e escuto os sem-voz. Chegou aos meus sentidos o aroma de tartaruga fervendo e borbulhando juntamente com carne de cordeiro em uma vasilha de bronze: o caldeirão é de bronze, e de bronze é sua tampa” (Transcrito do livro O Oráculo, de William J. Bronad).

Mais preciso e detalhista impossível. Domingo, quando sair o resultado da eleição, os brasileiros vão poder conferir qual, afinal, é o oráculo mais confiável.
*Jornalista e escritor

 

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