A surpresa do segundo turno introduziu na cena eleitoral uma Dilma Rousseff diferente.
Em versão 2.0, a pupila de Lula modificou o software de seu relacionamento com a imprensa.
Súbito, Dilma tornou-se uma candidata mais afável no trato com a mídia. Até já permite que os repórteres se aproximem dela.
Até a semana passada, Dilma só concedida entrevistas cercada de rígido aparato. Coisa importada do Palácio do Planalto.
Como sucede nas entrevistas de Lula, o reportariado era mantido a uma distância de pelo menos dois metros. Um cinturão de segurança impedia a aproximação.
Microfones e gravadores eram acomodados sobre um púlpito de acrícilo, atrás do qual Dilma se postava.
Funcionava assim no comitê de campanha e fora dele. Rente ao meio-fio de Juiz de Fora (MG), na Associação Comercial do Rio, na Rodoviária de Brasília…
…Em toda parte, Dilma não pronunciava um “A” antes de certificar-se de que a engrenagem que a afastava dos repórteres fora acionada.
Pois bem. Nesta terça (5), a candidata como que subverteu um esquema que vigorava desde o início da campanha.
Permitiu-se conceder uma dessas entrevistas que o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) costuma chamar de “quebra-queixo”.
Nada de púlpito. Nem sinal do anel protetor. Dilma foi rodeada de repórteres, esses seres incômodos.
As três imagens inseridas na montagem lá do alto oferecem uma idéia do “antes” e do “depois”.
Em duas fotos, Dilma é exibida na versão de primeiro turno, repórteres à distância. Na terceira, aparece a “nova” Dilma, microfones a roçar-lhe o maxilar.
Dilma pôs o software 2.0 para rodar depois de ouvir críticas de aliados. Entre eles o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Para Eduardo, as críticas de Lula e do petismo esquentaram demasiadamente a placa do relacionamento da campanha com a imprensa.
O próprio Lula, em rara autocrítica, admitiu que seus arroubos anti-mídia envenenaram a atmosfera.
No caldeirão do infortúnio, os ataques à mídia são vistos agora como a pimenta que temperou os escândalos (Fiscogate e Erenicegate) e o debate sobre o aborto.
Uma mistura que tonificou a votação de Marina Silva. Para reaver os votos, decidiu-se “humanizar” Dilma, aproximá-la da mídia e prover respostas ao noticiário azedo.
Tomada pelas palavras do governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), Dilma ainda está longe do ideal.
Com a autoridade de quem foi eleito no primeiro turno, com 82,3% dos votos, Casagrande ensina: “Não dá para colocar a candidata numa redoma”.
Fonte: Folha de São Paulo
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