Walter Queiroz Jr.
Advogado, poeta, compositor, membro da Confraria dos Saberes waljunior44@hotmail.com
Parafraseando o poeta e orgulhoso do meu País, venho lembrar da onda que se ergueu no mar e que os nossos olhos puderam ver: a grandiosa onda cívica que se ergueu num mar de votos, surfada elegantemente por um povo soberano e senhor do seu destino. Sob a égide de respeito e da esperança, milhões de brasileiros acorreram às urnas para consolidar o regime democrático e dizer um veemente “não” a qualquer tentativa de retrocesso institucional. As deficiências do nosso processo eleitoral clamando por mudanças que só a ansiada e urgente reforma política pode promover não conseguiram empanar o belíssimo espetáculo de maturidade dado pela brava gente brasileira.
O “fenômeno Tiririca”, por exemplo, pode e deve ser interpretado como uma cabal demonstração de revolta da opinião pública, que, ao transformar um palhaço semi analfabeto num campeão nacional de votos, deu um claro e irônico recado ao circo político: chega de marmelada! No passado, os paulistas agiram parecido ao sufragar um rinoceronte denominado Cacareco, tornando-o símbolo perene do voto de protesto. Como nada é perfeito, sobretudo eleições, pelo alto teor de interesses conflitantes, há de se lamentar a derrota de políticos historicamente compromissados com a causa popular, mas também há de louvar-se o advento de novos quadros.
Vivemos um tempo de graves inquietações e enormes desafios, tais como reverter a escalada da violência, que, combatida com mais violência, só põe mais lenha na fogueira da intolerância e da estupidez. O embate entre povo e polícia em recente incidente em Itapuã é inquietante e sinaliza na direção de um crescente acirramento de ânimos, com nefastas conseqüências para o convívio cidadão. Em compensação, o País, oxigenado pelas urnas, pode voltar a se mobilizar. É emocionante ver, sobretudo os jovens, voltando a discutir política, implicando-se coletivamente, lutando por seus direitos e, queremos crer, encerrando um longo ciclo de indiferença.
“Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho” (Tom Jobim).
Jornal ATARDE – Edição de 08/10/2010
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