Quem votou em Tiririca

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Por: Jorge Portugal Educador e poeta secretaria@jorgeportugal.com.br

Assim que as urnas gritaram, gritaram também os editoriais indignados dos jornalões do Sudeste e similares denunciando a tragédia eleitoral a macular a alma brasileira. Gritaram ainda acadêmicos de gestos contidos e estudados, senhoras quatrocentonas, defensoras de uma aristocracia social em perigo, “formadores de opinião” cansados de rabiscar caminhos que o povo ignora. A revolta se traduzia em números: um milhão e trezentos mil votos! Mas… quem teve a coragem de votar em Tiririca? A hipocrisia pergunta e a História responde: Votou em Tiririca a mentalidade atrasada e tacanha que teima em reduzir o que seria um belo debate político em um bate-boca eleitoral sobre aborto e fé religiosa. O programador de rádio analfabeto musical que, misturando jabá e mau gosto, transforma em retumbante e permanente sucesso nacional sertanejos chorosos e piegas. O “classe-média ganhador-de-grana” que resume a vida no conforto fajuto de um consumismo degenerado e transmite isso a seus filhos como nova religião familiar. Líderes religiosos de todos os credos que transformam fiéis em gado manso, pobres-diabos sem alma com medo de demônios e outros exterminadores da razão.

Votaram em Tiririca todos os que alimentam um sistema de ensino desconectado do real e da contemporaneidade, que mantém currículos medievais e provocam a juventude a tomar horror à escola e ao conhecimento. As “cabeças brilhantes da mídia” que fazem da TV aberta brasileira um pasto de conteúdos imbecis, com uma programação que transforma, cada vez mais, telespectadores em “abestados”. O arraigado preconceito e indisfarçável racismo da elite brasileira eurodescendente e machista que jamais se conformará com mulheres, nordestinos, negros e não-diplomados ocupando qualquer fatia de poder, por mais tênue e simbólico que seja.

Todos eles podem até não ter depositado o voto na urna na última eleição; mas que votaram, votaram. Depois de todos esses sufrágios e outros mais que não couberam neste artigo, sobra espaço apenas para a pergunta final: quem, de verdade, neste País, pode ser chamado de palhaço?

Transcrito do Jornal ATARDE- Edição de 12/10/2010

 

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