Por: Samuel Celestino
Bahia Noticias
A esperada eleição de Dilma Rousseff determina mudanças no poder político brasileiro, embora não se devam esperar mudanças substanciais na República.
Ela própria anunciou que fará um governo de continuidade, basicamente com viés à esquerda com um objetivo precípuo: combater a miséria e diminuir as desigualdades sociais no País. Trata-se de uma grande bandeira. Se conseguir, mesmo que seja em parte, terá, ao findar o seu mandato em 2014, feito muito.
A miséria e a desigualdade são as grandes manchas e o grande entrave para o desenvolvimento brasileiro que, parece, ter encontrado o seu caminho e continuará nesta marcha, espera-se, com Dilma Rousseff. Não há razões para imaginar que não, assim como o seria também com José Serra.
O discurso da presidente eleita, logo após a confirmação da vitória, é um documento de compromissos. Nele estão as linhas básicas que seguirá na sua gestão. A sua importância é inquestionável.
Não se trata de governo anunciado em campanha, mas sim no primeiro pronunciamento já na condição de presidente eleita. Dilma o fez sem demonstrar euforia, o que seria de esperar depois de uma eleição antecedida por uma campanha extremamente cansativa.
Seria natural que assim fosse diante de tamanha expectativa represada, por ela e pelo País, mas preferiu outra linha.
Foi direta ao assunto, lendo o documento refletido e preparado por sua equipe.
Rousseff chega à Presidência da República por via indireta, no rastro da extraordinária popularidade de Lula que, dessa forma, passa ser também o primeiro presidente que elege o sucessor, no caso uma sucessora, fato inusitado na história republicana.
Assim, foi mais um paradigma quebrado por ele. E foram muitos, dentre eles levá-la ao poder sem que jamais tivesse experimentado uma campanha eleitoral como candidata. Nunca fora eleita.
Mais: Lula a fez candidata sem realizar, sequer, uma consulta ao seu partido, o PT. Ensinou-a como se conduzir numa campanha; fê-la presidente sem que seja dotada de carisma para arrebatar o eleitorado e despertar paixões.
Essa parte, aliás, coube a ele desempenhar, acompanhando a em todos os seus passos da campanha.
A partir de agora, o poder de Lula se encaminhará para o ocaso até transferi-lo no dia primeiro de janeiro. Ele, no entanto, estará presente nas ações de gestão de Rousseff.
Na verdade, já se adiantou ao aconselhar a manter em seus cargos o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Se o futuro governo tem como característica a continuidade, a permanência dos dois significará a manutenção da espinha dorsal da gestão Lula e, de igual maneira, a política econômica que assegura, desde a época de Pedro Malan,no governo FHC, uma rota de desenvolvimento sustentado que impulsiona o Brasil à condição de quinta potência mundial, o que presumivelmente acontecerá dentro de 15 a 20 anos. Se não em menor tempo. Se desta forma acontecer, mesmo que não seja através dos dois nomes citados, a gestão de esquerda, admitida por Dilma, ocorrerá na área social.
Aí é preciso mesmo uma compreensão humanística com viés de esquerda para extirpar a miséria e diminuir as desigualdades que fazem do Brasil um País tão injusto, ao conviver com riquezas de Primeiro Mundo e a insustentável realidade só comparável às nações mais atrasadas do continente africano. Assim, os desafios que Dilma terá pela frente serão imensos. Ela leva como vantagem o fato de que já estão pautados e os caminhos para solucioná-los, embora espinhosos, são conhecidos.
Ao assumir o governo no primeiro mandato, Lula imaginou que extirparia a pobreza combatendo a miséria através do programa Fome Zero, que lançou ao mundo imaginando-o factível.
Na prática não deu resultado.
Foi obrigado a esquecê-la para, depois, lançar o bolsa família que, além de combater a fome, permitiu a migração de classes situadas na base da pirâmide para a sociedade de consumo. Essa transmigração acabou por favorecer, ainda, o crescimento econômico. Portanto, a presidente eleita conhece os caminhos para diminuir a miséria que atinge basicamente a região nordestina, responsável, em grande parte, pela sua eleição.
Só a Bahia transferiu para ela70% do seu eleitorado. Não foi, em termos percentuais, a sua maior vitória, mas numericamente o Estado praticamente repetiu com Dilma o desempenho em votos obtido por Lula. Espera-se, assim, que haja compensação. Até porque a Bahia, embora sendo a principal economia do Nordeste, oferece um lamentável quadro de miséria, na mancha do seu território marcado.
A presidente eleita não tem a maioria do País. Recebeu apoio da parte mais pobre, mas 53% estão sob o controle da oposição, especialmente São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
Isso, porém, não tem o menor significado. Dilma Rousseff disse que governará com os partidos aliados que sustentaram a sua vitória, mas avisou que nenhum Estado será discriminado. Assim deve ser.
A democracia é consolidada pelas urnas, por projetos em confronto. Mas, definidos os resultados, todos formam um Estado único, a União.
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