Nunca, em toda a sua história, um país acompanhou tão atentamente uma redação, como ocorreu agora com o Tiririca, obrigado a provar que sabe ler e escrever. Só o fato de ter de fazer esse teste já demonstra que ele esteve muito longe do ensino. Ele teria uma chance agora de fazer um lance de marketing maravilhoso e, ao mesmo tempo, ajudar o país – e sem o menor esforço.
Se eu fosse o Tiririca, eu daria uma lição a todos os que debocham (e com razão são muitos) e faria da cobrança por uma educação melhor uma plataforma permanente. Começaria reconhecendo que a vida não lhe deu as condições necessárias para estudar, mas sabe de sua importância. Teve até sorte de se virar bem como palhaço, mas é uma ínfima minoria. Montaria uma assessoria capaz de acompanhar números, analisar projetos em andamento e, quem sabe, até propor soluções. Pediria ajuda a entidades como Unicef, Unesco, Todos pela Educação, para embasar suas propostas. Todos, posso garantir, teriam prazer em ajudar se tivessem a segurança de que não se trata, digamos, de uma palhaçada.
Com sua capacidade de comunicação com as camadas mais pobres, seria um belo e produtivo exemplo.
O leitor, a essa altura, deve estar achando que, com essas ideia, eu devo ser uma espécie de Tiririca sem graça. Talvez.
Mas, provavelmente, a educação só será realmente vital em nossa nação quando não elegermos Tiriricas. Ou, se elegermos, pudermos vê-los fazendo coisas sérias. Nada pode ser mais sério para alguém acusado de analfabeto do que defender a educação.
Por: Gilberto Dimenstein, 53 anos, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha.com às segundas-feiras.
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