Se o Brasil fosse politicamente correto, um ministro acusado de conduta suspeita teria pressa em prestar esclarecimentos e até mesmo afastar-se do cargo para facilitar o necessário inquérito. Evitaria, assim, a fragilização do governo federal, forçado ao constrangimento de o proteger, por motivos puramente corporativistas.
Mas o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, cala. Sob a natural pressão parlamentar oposicionista, e da sociedade, que exigem explicações – e isso nada tem a ver com “guerra política”, senão com transparência democrática -, o planalto demonstra temor, na medida em que veste no suspeito uma armadura de encomenda.
Por solidariedade a Palocci, armado cavaleiro e beatificado, apesar de apeado da Pasta da Fazenda, no governo anterior, por ato indecoroso, o governo baixa uma cortina de silencio cortada apenas pelos sussurros áulicos. Por que tanta estratégia defensiva, por que o confronto quando bastariam explicações completas e convincentes?
Governadores do PT, entre eles Jaques Wagner, argumentam que Palocci já se justificou de forma cabal, ao declarar à Receita a compra de um imóvel por R$ 6,6 milhões. Se o processo de enriquecimento pessoal foi lícito, então avulta a conveniência de oferecer de pronto esclarecimentos plenos. Não se entende a recusa a uma convocação do Congresso.
Ademais, a questão ultrapassa os lindes fiscais. Sugere tráfico de influência e uso de informação privilegiada, quando, fora do governo passado, o ministro exerceu atividades de assessoria e consultoria, sobretudo nos dois meses posteriores a eleição da presidente Dilma. Se inocente, como se diz, não desejará tolerar na testa, doravante a mancha da suspeição.
Cobranças da sociedade e do Ministério Público seriam dispensáveis. É lamentável que o País, tão pródigo em escândalos da má conduta, se dê ao luxo de insuflar mais um, quando há tantos problemas pendentes, como o novo Código Florestal e o combate a inflação.
Editorial de ATARDE- Edição de 25/05/2011
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