Por: Eliane Cantanhêde (*)
Havia de tudo um pouco na marcha contra a corrupção aqui em Brasília: gente vestida de presidiário, tipo Irmãos Metralha, gente com máscara de porco, que chafurda na lama, gente fantasiada de pirata, por causa dos desvios para paraísos fiscais. Não faltaram vassouras e, claro, uma vistosa pizza. Foi uma festa alegre, mas foi uma manifestação séria, se é que você me entende.
Em vez de palavras de ordem genéricas contra a corrupção, os organizadores focaram temas específicos: a constitucionalidade da lei da Ficha Limpa, em votação no Supremo, a garantia das prerrogativas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para investigar juízes, idem, fim do voto secreto de deputados e senadores, em análise no Congresso, e combate sério à evasão de divisas.
Foi uma manifestação sem partidos, sem UNE, sem sindicatos, mas com apoio da OAB e da CNBB. Aliás, o presidente desta entidade, Dom Raymundo Damasceno, deu declaração pública a favor do movimento nas comemorações de Aparecida do Norte. Tem peso, tem força.
Havia 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, segundo estimativas oficiais. E outras manifestações ocorreram também no Rio, em São Paulo e quase duas dezenas de cidades.
Há quem desdenhe desse tipo de articulação, basicamente liderada por setores da classe média urbana, que se vale agora das preciosas redes sociais da internet. Mas, sinceramente, eu dou o maior valor. Em vez de se indignar no sossego do seu lar, as pessoas estão indo às ruas exercer seu direito de gritar, pressionar, cobrar.
É assim que funciona a democracia. É assim que se mudam as coisas e se determina o futuro.
(*)Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.
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