Por: Edgar Flexa Ribeiro
A corrupção no serviço público não é mais um acidente pontual, episódico e controlável. Não é mais o caso de Fulano ou Sicrano. A corrupção é sistêmica, auto-sustentável e prolífera.
A ocupação do serviço público federal por uma invasão de interesses privados travestidos de facções políticas, abrigadas em legendas partidárias, perdeu os limites.
Aquilo que se chama de “aparelhamento”, termo no qual se ainda procura encontrar, como justificativa, nobres ideais e boas intenções, não passa na verdade de assalto organizado para a rapinagem.
A corrupção, como se tem visto recentemente, está no governo e na oposição. Nas esferas federal, estadual e municipal. No Executivo aparece mais, mas no Judiciário e no Legislativo tem também.
Não é obrigatória, é claro, mas parece estar fora de todo controle. Nas repartições mais humildes, em palácios, ministérios, secretarias.
“Mensalão” não é corrupção: é “Caixa 2”. Aí pode. E um dos que se safariam se esse entendimento prevalecer nos tribunais reaparece, preso em outro episódio.
Entenda-se bem: corrupção não é só meter a mão em dinheiro, tipo dólar na cueca, desvio de verbas, terceirizações e ONGs safadas.
Corrupção está também nos padrões éticos de agir e atuar no serviço público.
Violar sigilo bancário de caseiro pode. Mas é corrupção. Armar ações para vilipendiar adversário também pode, mas quem faz isso é só “aloprado”. E é corrupção também.
Nem falemos nos assessoramentos e consultorias que autoridades públicas prestam a setores privados com interesses em suas áreas de atuação, em palestras pagas a peso de ouro e em intermediações milionárias.
Os padrões éticos do serviço público estão decompostos. Nobres propósitos de levar o país à riqueza e progresso, resgatar da miséria nossas populações desvalidas e promover o desenvolvimento, pelo que se vê, são mobilizados para justificar o beneplácito oficial com esses “malfeitos”. Os êxitos são mobilizados para redimi-los.
Seria cômico se não fosse trágico.
Se os ventos que sopram nos empurram para frente, se o país vai tocando sua vida adiante, se brasileiros avançam em direção ao consumo e ao sucesso, tudo é êxito. O resto é detalhe.
Mas não será sempre assim. Serviços públicos loteados, invadidos por uma horda de cargos em comissão anarquicamente criados, e gerenciados dessa maneira, já começam a falhar.
Agências reguladoras dominadas por incompetências a serviço dos que teriam que ser regulados serão as primeiras a afundar.
Vazamentos, desordem aérea e aeroportuária misturados com Copa de Mundo e Olimpíadas. Não vai dar certo.
E aí, ainda acaba aparecendo quem diga que a culpa é da democracia.
Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação
Fonte: O Globo
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