Por Levi Vasconcelos_Bahia 247
O voto direto, livre e secreto ainda é o melhor instrumento para a escolha de governantes, mas havemos de convir a necessidade de um reparo e uma reafirmação:
1 – A voz do povo não é a voz de Deus.
2 – Cada povo tem o governo que merece.
Nadinho, notável figura da Vila Operária, em Valença, bom de bola na juventude e ótimo da bola na maturidade, estrila a sua desilusão com os políticos dizendo que não vota mais em ninguém. Como tantos que se respeitam no exercício da cidadania, diz não ver sentido em acreditar e não ser correspondido. E até perdeu a esperança de vislumbrar mudanças.
Erro crasso. Que ele se sinta traído e indignado é não só legítimo como compreensível. O desconforto pessoal é grande, tudo bem, mas por mais contraditório que possa parecer, é de tais sentimentos que brota a esperança de um dia a vivermos um tempo melhor. Nós, o Brasil, a humanidade e o bom senso, precisamos dos indignados como Nadinho.
Óbvio que estamos numa sociedade em amadurecimento. As fraquezas humanas temperadas com as fragilidades institucionais e a força do dinheiro acumulado limpamente ou simplesmente roubado prevalecendo sobre a civilidade. Dá mesmo para desanimar se o entendimento for o de que o processo evolutivo parou aí.
A ELEIÇÃO DO LADRÃO
A escolha de mandatários através do voto vem de longe, lá da cultura greco-romana, diz a maioria, ou dos celtas e hindus, falam alguns. O certo é que a primeira escolha popular cujos candidatos sobreviveram no tempo como personagens conhecidos foi entre Jesus Cristo e Barrabás. Era um revolucionário contra um ladrão carimbado, e o resultado todos sabem, o ladrão ganhou por eufórica aclamação.
Se o Cristo era indiscutivelmente o melhor candidato, o episódio nos induz a uma conclusão óbvia, a voz do povo não é a voz de Deus, ao contrário do consagrado dito popular. E convenhamos, de lá para cá o povo nunca mais parou de eleger ou aclamar ladrões, os fichas sujas chapados. E daí talvez venha a máxima, esta pertinente: cada povo tem o governo que merece.
Também temos de convir que a literatura é recheada de exemplos nos quais o eleitorado agiu de boa fé, acreditando sinceramente estar escolhendo o que apresentou-se melhor ou tinha um currículo que infundiu tal sentimento e foi traído. E de episódios em que se viu compelido a optar entre um visivelmente péssimo e outro notoriamente ruim.
Seja como for, partilho da tese do professor Antonio Albino Rubim, cientista político e hoje secretário de Cultura da Bahia: a humanidade ainda não inventou forma melhor de escolher governantes, apesar da prática hoje, em plena era cibernética, ainda ser adotada apenas por metade dos países do mundo. Sem falar que, entre os que adotam (o Brasil incluso), trambiques e cambalachos para fraudar vontades é fato corriqueiro.
É um processo. Infelizmente, nosso tempo é assim. Consola saber que já foi pior. Estamos na transição entre a fase da lei do mais forte e a civilidade plena, o tempo em que as eleições serão inteiramente limpas, os candidatos idem e a justiça indiscutivelmente idônea.
Por enquanto, o problema é nosso, do eleitorado. É para evitar a eleição dos Barrabás que a sociedade precisa do voto de gente como Nadinho. Se os indignados jogarem a toalha, aí sim, estaremos num mato sem cachorro.
Rogamos que chegue o dia em que saibamos escolher bem e que a justiça,as regras da civilidade, façam as correções que eventualmente cometermos. Até lá, o negócio é cumprir a parte que nos cabe, no nosso tempo.
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