A sociedade chegou ao limite de suportabilidade e, sem reforma político partidária, o futuro da democracia é uma incógnita
Engatinhamos no rumo da incipiente democracia, mas que de plena e ampla ainda está longe de ser alcançada.
Prevalecem os feudos, coronelismos e, notadamente, forte concentração de renda, cuja elite não se cala e faz ouvidos moucos para uma nova e instigante jornada relativa à soberania e representação popular.
A enfadonha classe política se perpetua no poder e preserva suas regalias, e não dá a mínima chance para o novo, aparecimento e surgimento de novas lideranças ou pessoas imbuídas de algum ideal, sem ingenuidade, é preciso enfatizar.
A grande disputa acontecerá durante o ano, entre alianças, remendos, concertos, arranjos e disputas partidárias nas eleições municipais. A sonora confusão somente corrobora a tese da falta de ideologia e de princípios aos partidos em vigor.
Precisamos, a passos largos, dar uma definição mais a ampla e apropriada, com a redução a, no máximo, seis partidos, todos eles com representação em todos os estados da federação, findar o voto obrigatório, do analfabeto e, sinceramente, conceber candidatos com nível de escolaridade necessário e suficiente ao exercício do mandato.
Não podemos brincar de democracia, ou trazer seu preço elevado para o contribuinte.
Um dia o candidato está num partido, logo em seguida muda, alianças do passado já não mais existem, aquilo dito ontem não prevalece hoje e assim por diante.
Neste nebuloso e indescritível cenário se encontram os partidos políticos brasileiros, muitos deles vivem da ambição e arremetem valores pessoais para pressionar o governo a ceder cargos.
Enfim, a demagogia dos governantes é o marco da última década e os partidos são inquestionavelmente receptáculos desta malévola expressão do sentimento da sociedade.
Despreocupada e preguiçosamente, os partidos não confluem para uma composição favorável ou aceitável.
Nos EUA, somente dois partidos, republicano e democrata, disputam o poder, na Alemanha e na Europa como um todo, no máximo três tem algumas chances.
Em termos locais, tudo é diferente, são mais de 25 partidos, todos eles com o intuito de chegar ao poder e partilhar de suas benesses, mas, no fundo, nenhum deles se identifica com seu eleitorado.
A lacuna é uma brecha impreenchível, na medida em que candidato e partido falam línguas diferentes, e o principal é conseguir espaço para se perpetuar no poder.
Temos políticos profissionais que estão há mais de 20 anos na política e com suas aposentadorias garantidas. Deveria haver um intervalo após o terceiro mandato e não permitir a reeleição em seguida.
Há restrição no Executivo, também nos cargos de direção do judiciário, mas no legislativo nenhuma, até a idade é livre, e vemos hoje desfrutarem das maravilhas do poder, deputados e senadores que já passaram dos 80 anos.
Nada contra a idade provecta, mas sim de entrar a juventude de corpo e alma no poder político e oferecer à população lições mais consistentes.
A sociedade chegou ao limite de suportabilidade e, sem reforma político partidária, o futuro da democracia é uma incógnita.
(*)Carlos Henrique Abrão é desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo
Fonte: Brasil247
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