Coluna A Tarde: Crise na base do governo

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A crise na base aliada do governo Dilma ganhou contornos mais severos. Não dá para vaticinar onde o movimento reativo vai chegar. O PMDB sente-se, como principal aliado e integrante da base, insatisfeitíssimo com a gula do PT, que avança sobre as posições das legendas amigas. É antropofagia pura. A presidente está em dificuldades e seus interlocutores no Congresso são fracos. A começar pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Há um movimento crescente nas hostes peemedebistas. Eles querem tratamento igual ao que é dado ao PT, cuja gula é insaciável.

Diante da crise instalada, ao ponto de o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente de honra do PMDB, não ter tomado conhecimento, a não ser pela imprensa, da nomeação de Marcelo Crivella para brincar com peixinhos no Ministério da Pesca.  Resolveu, então, dar ciência pública de que passa a integrar os descontentes do PMDB, um movimento do qual participam 47 deputados federais (incluindo ele). O partido não aceita a fome de anteontem do PT, que quer avançar sobre as posições municipais, principalmente em São Paulo onde, à revelia de todos (como aconteceu em relação a Rousseff) Lula, sem consulta, lançou a candidatura de Fernando Haddad, um neófito na política e que, antes, ocupava o ministério da Educação.

Lula saiu na frente ao observar que havia desentendimentos pessoais e políticos no PSDB, que comanda o Estado de São Paulo. Acontece que, inesperadamente, José Serra resolveu cancelar seu sonho (por ora) de ser presidente da República e, a partir de muitos pedidos, lançou-se candidato à prefeitura paulistana. O PMDB tem um candidato, Gabriel Chalita, um personagem novo, mas denso, na política do Estado. Serra, de largada e na primeira semana apareceu na pesquisa DataFolha com nove pontos à frente, liderando o processo, contra apenas 4 pontos de Haddad. O PT quer que o PMDB retire Chalita para apoiar, em aliança, o candidato de Lula. Foi demais para o anseio do comportado Michel Temer que anunciou que passou a integrar a linha da dissidência e se afasta, pouco a pouco, do PT, gerando dificuldades para essa legenda.

Não é somente em São Paulo. A invasão petista acontece em diversos municípios, numa tentativa de se transformar em partido hegemônico no País, o que não interessa aos partidos da sua base, a não ser aqueles (e não são poucos) que vivem de cuia na mão recolhendo vantagens em forma de nomeações. Daí a meter a mão no erário é um pulo. Em SP, provavelmente o PT não contará, com Kassab, fundador do PSD.    

Aqui em Salvador, o PSD apóia o PT que tem em Nelson Pelegrino o seu candidato à prefeitura. Acontece que, na Bahia, o PSD não é um partido, é um balaio, ou, se quiserem uma gaveta de sapateiros onde se pode  encontrar de tudo. Como, por exemplo, tachas, cadarço, sola, martelo, capa fixa (daquelas que se colocavam nos antigos sapatos Luis XV das moçoilas de décadas atrás) cola e o diabo que se possa pensar. Até peixe frito. A razão é simples. O PSD daqui é um amontoado de políticos que mais parecem uma explosão de boiada que ficaram perdidos com a diáspora que aconteceu no antigo PFL, hoje DEM, depois do desaparecimento do cacique ACM.

Sem saber em que direção caminhar, se aboletaram da chuva à sombra do governo Wagner e foram arrumados numa espécie de prateleira por Otto Alencar, que comanda o PSD local, cujo futuro é incertíssimo. Tais políticos podem estar hoje à sombra do governo Wagner para não perderem seus redutos diante da fome insaciável do PT, como podem, não há dúvida, mudar de rumo quando encontrar uma árvore mais frondosa e com mais galhos para se sustentarem. Eles não tomam posição em bloco, a não ser quando absolutamente necessário. De resto, cada um está na sua, sem sentido de conjunto. É como se estivessem sendo arrastados por uma correnteza na qual procuram arranjar uma forma de salvamento, qualquer que seja. É interessante vê-los como baratas tontas, sem maiores interesses no PSD.

Enfim, a crise está instalada no PMDB, aliado primeiro do PT. O partido poderá estar em outra em 2014, como já parece estar neste 2012 de eleições municipais.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (8).

 

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