Baixa participação política é histórica no Brasil

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Por: Rosane Santana

O Brasil vai às urnas, em outubro deste ano, para eleger cerca de 5.500 prefeitos e vice-prefeitos e 56.400 vereadores nas eleições municipais. Mas há um clima de quase apatia entre os eleitores, mesmo com a proximidade do pleito, que faz crescer o temor de que a não obrigatoriedade do voto, como desejam alguns defensores da reforma política, possa levar a níveis de abstenção indesejáveis.

Como o voto ainda é obrigatório, os eleitores terão de comparecer às urnas ou justificar sua impossibilidade de fazê-lo, sob pena de pagamento de multas e impedimento para participação em concursos públicos e ingresso em escolas federais e estaduais, entre outras punições.

A baixa participação política é um fenômeno histórico no Brasil. Embora cada época guarde diferentes razões, há traços em comum a ligar períodos longínquos aos dias atuais, como o autoritarismo de nossa tradição política, a falta de interesse pelas eleições legislativas e a desinformação sobre as atribuições do Poder Legislativo, convertido em simples mediador de favores e interesses corporativos.

Durante o Império, quando da construção do Estado nacional, fatores como escravismo, economia monocultora e grande latifúndio, estado absolutista e monárquico e analfabetismo foram determinantes para explicar o fenômeno. Em um ambiente de ruralismo, privatismo e violência, a população não tinha consciência do significado de votar, tampouco das instituições políticas e representativas, como o Parlamento, transplantadas da Europa.

O povo votava convocado pelos patrões, autoridades do governo, pelos juízes de paz, pelos delegados de polícia, pelos párocos e comandantes da Guarda Nacional – estes, os grandes proprietários de terra, os donos do poder econômico e político. Alguns estudiosos refutam explicações que atribuem, somente ao analfabetismo, a falta de interesse do brasileiro pela política, principalmente entre o Império e a República Velha (1822-1930).

Para estes, as razões estariam no fato de a Independência ter sido tão somente uma transferência de poder entre D.João VI e o seu filho D. Pedro I, sem os choques e as lutas que costumam forjar a consciência política de um povo.

Atualmente, observadores da cena política mundial apontam uma desilusão generalizada da população com os processos democráticos, especialmente no voto como instrumento de transformação, além de uma crise nas estruturas parlamentares de representação, apesar do avanço da democracia em todo o mundo.

O paradoxo pode ser explicado pela democracia em tempo real, proporcionada pela revolução tecnológica, que dá à população instrumentos para manifestação sobre os mais diferentes aspectos da vida cotidiana, sem intermediações; quebra o monopólio da informação pela grande imprensa e iguala as condições de acesso a informações antes privilegiadas.

No Brasil pós-ditadura militar, a descrença generalizada nos políticos e a falta de interesse pelas eleições, em todos os níveis, podem ser explicadas, ainda e principalmente, pela multiplicação de denúncias de desvio de recursos públicos, corrupção, troca de favores e nepotismo nos poderes Executivo e Legislativo, favorecida pela revolução tecnológica e seus poderosos satélites e micro câmeras.

Estima-se que cerca de 85 bilhões de reais são desviados dos cofres públicos, anualmente, pela corrupção, em todos os níveis da Federação, enquanto a maioria da população ainda sobrevive em péssimas condições, sem assistência médica, educacional, segurança pública e padrões sanitários satisfatórios, comparados a países mais desenvolvidos e até vizinhos latino-americanos, como a Argentina e o Chile.

Fonte: BahiaJá

 

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