Por: José Carlos Alcântara (*)
Se a maioria da população de uma cidade decidir por não empreender uma alternância do poder, esta decisão será democrática.
Não-democrático seria um pequeno grupo impedir esta não-alternância. Não-democrático seria quem está no poder permitir uma alternância à força ou por meios escusos. Não-democrático seria tirar a liberdade das pessoas escolherem se preferem ou não esta alternância.
A essência de toda democracia é seguir as decisões da maioria da população. Todo mundo pode dar a sua opinião, o seu voto. Mas o que importa é aceitar uma decisão que é uma escolha feita por todos os eleitores.
Se essa escolha foi decidida, afinal, pela maioria das pessoas, serão todos os indivíduos da comunidade que trabalharão para, junto a seus representantes eleitos, participar da fiscalização da melhor gestão possível da sua cidade.
Diante das falcatruas, daquele jogo de interesses, do tráfico de influências, do nepotismo, das licitações fraudadas ou dirigidas, dos superfaturamentos, das propinas e do caixa 2, que parecem estar sempre presentes nas disputas eleitorais, ficamos atônitos diante de discussões em busca dos políticos certos que possam nos representar.
Assim, muitos daqueles eleitores que acabam por deixar de votar pelos interesses da sua cidade, passam a votar de acordo com seus próprios interesses e necessidades pessoais, o que acaba se tornando desastroso para os interesses de toda uma coletividade.
A alternância do poder não implica em mudanças drásticas nas políticas de governo. O que está dando certo deverá ser mantido e poderá até ser melhorado por quem chegar. Mas quando as mudanças não acabam com a corrupção e nós concluímos com muita indignação que sua eliminação total é uma utopia, nós nos tornamos céticos, amargos e descrentes.
Desprezamos até mesmo boas propostas políticas e deixamos de ser agentes livres e participativos de mudanças, para nos tornarmos em rebeldes, agindo sempre com o ódio de quem busca tumultuar o processo eleitoral pregando o medo e o caos.
Não haveria uma ditadura maior do que um político eleito com 100% dos votos. Isto não deveria ser comemorado mas sim profundamente lamentado.
A administração de uma prefeitura municipal, seja ela boa ou má, não pode torná-la numa empresa privada, com a alternância de poder entre seus ‘sócios’ e com o favorecimento direto ou indireto que propicia o crescimento patrimonial de beneficiados.
A perpetuação de um domínio político, quando é baseado em interesses financeiros privados, é um evidente desastre para a democracia de uma cidade, seja ela grande ou pequena. Pois, além de alimentar uma casta dos beneficiários locais, ela destrói os fundamentos de uma gestão saudável dos serviços públicos, provoca a falência da sua estrutura administrativa, corrompendo a moral dos servidores e transforma as suas relações com a população local em um balcão imoral dos seus negócios ilícitos.
A quebra permanente da cadeia de confiança recíproca entre a população e seus servidores municipais, uma vez consumada, esgarça o tecido social e político de um município, provocando a deterioração da sua capacidade de executar até mesmo a mais simples manutenção de equipamentos básicos de transporte, saúde, saneamento, segurança e educação.
Uma cidade assim poderá se transformar em um ajuntamento desordenado e decadente de moradores, interessados apenas em sua sobrevivência a todo custo, ficando incapacitada até de se habilitar a receber recursos de programas do governo federal.
Como consequência, veremos o alarde dos veículos oportunistas de comunicação, a divulgar sempre com muito espanto, os comentários de moradores envergonhados por ter de conviver com tamanha barbárie, assistindo resignados a disputas travadas com unhas e dentes pelo direito dos políticos em continuar a reconquistar o poder para voltarem a se locupletar dos recursos públicos.
Não podemos mais aceitar este tipo de cenário. Ele não é ideal para o desenvolvimento de qualquer cidade, seja lá quais forem suas tradições e os princípios da sua sociedade. Daí, a saudável alternância do poder. Para temperar o exercício da democracia plena com um crescimento racional e sustentável do município.
Precisamos mudar a mesmice com que conduzimos as nossas discussões políticas que não inovam em nada, nem nos trazem estímulo algum para melhorar a qualidade de vida das cidades desgastadas pela falta de cuidado e o desleixo de conhecidos administradores corruptos.
Está na hora de dar uma chance e passar o bastão para os que querem contribuir para melhorar. É certo que o nosso voto vai ajudar muito nessa mudança. Mas é a consciência da nossa responsabilidade com o meio ambiente, com nossa própria casa e as nossas ações, que farão uma grande diferença.
(*)José Carlos Alcântara é colaborador do Jornal Primeira Hora, do Rio de Janeiro, e consultor de empresas
Fonte: bahia247
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