Coluna A Tarde: Seca e eleição

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Por: Samuel Celestino

Até que ponto o flagelo da seca poderá influir nas eleições do próximo ano nos Estados nordestinos que enfrentam uma das piores estiagens das últimas cinco ou seis décadas? Esta é uma questão presente nas apreensões dos políticos, pelo menos na Bahia. Pernambuco e Ceará não têm essa preocupação de forma acentuada. No primeiro Estado pela força de Eduardo Campos e, no segundo, pelo prestígio dos irmãos Gomes, Cid, governador, e Ciro ex-governador e ex-ministro. A situação no interior baiano a cada dia piora pelas dificuldades que os municípios da região do semiárido enfrentam. A tendência, de acordo com os especialistas, é piorar se as chuvas não acontecerem no período em que são esperadas, de novembro próximo a abril de 2014. Na há grandes esperanças.

Essa pergunta sobre a relação seca-eleição é de difícil resposta. Em outros tempos, exploravam-se os sertanejos trocando água por voto. Já não é a mesma coisa. A legislação eleitoral evoluiu e o Ministério Público passou a ter uma atuação diferenciada e enérgica a partir da Constituição de 1988. Ademais, embora a sucessão esteja na ordem do dia, está ainda muito distante da campanha eleitoral onde poderá ter-se alguma visibilidade do quadro, mas nada que seja afirmativo sobre possibilidades de candidatos. O PT é o único partido que está em ação, com quatro pré-candidatos.

A oposição não pensa sobre a questão. Apenas observa. Sabe-se que o ex-ministro Geddel Vieira Lima é candidato, mas nem ele próprio dá certeza disso. Otto Alencar, do PSD, nega. Diz que prefere ser candidato ao Senado, mas nessa história há muitas dúvidas, na medida em que poderá receber apoios, com do PP, conforme declarou a este jornal em entrevista de página inteira o presidente da legenda e ex-ministro, Mário Negromonte. O governador Jaques Wagner nada declara sobre candidaturas, mas a suposição é de que o chefe da Casa Civil, Rui Costa, seja o nome da sua predileção. Petistas não negam. O problema é que Rui está à frente das ações do governo para combater a seca e aí surge uma questão: se a situação no semiárido baiano piorar, conforme a tendência acima citada, a sua situação não ficará confortável. Um trabalho que lhe poderia trazer retorno eleitoral à © possível que tenha outra consequência, mas é apenas nova suposição que coloco neste texto.

De resto, a inflação ameaça ganhar corpo e surge, nos arredores do governo Dilma Rousseff, o temor de que os preços disparem e a equipe econômica perca o controle da situação. Em termos de inflação, o tomate está na ordem do dia, mas, por essas bandas, o tomate não representa o que o sertanejo costuma consumir no semiárido. Como não dá para plantar e não se colhe consequentemente nada, o problema se situa nos preços do café, mas, sobretudo, do feijão e da farinha de mandioca que dispararam. Trata-se da alimentação básica do sertanejo, que assiste à morte pela sede dos seus rebanhos.

Enfim, a relação entre a seca e a eleição é forte. Talvez não como em outros tempos, como já frisado, mas, entre outros fatores, pela obrigação de o governo fornecer alimentos. Isso será cobrado quando o lamento do sertão for mais forte.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (16)

 

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