A doença de Lula

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Por: Gilberto Dimenstein (*)

Dilma Rousseff está vencendo as eleições porque Lula fez um bom governo, marcado pela redução da miséria, em meio a crescimento econômico e inflação sob controle. Simples assim. Soube manter as conquistas econômicas do seu antecessor e aprofundar programas sociais. Não conheço nenhum período da nossa história em que estivéssemos tão bem, apesar de muito longe de uma nação civilizada e precisarmos ainda de reformas ousadas.

Difícil entender por que, com tantas conquistas, termine seu mandato atacando a imprensa, desrespeitando o poder judiciário, acobertando flagrantes falcatruas e dando sinais inequívocos de apoio do aparelhamento do Estado.

Morei 13 anos em Brasília, onde respirava os bastidores do poder. Até que me cansei, por achar que estava ficando intoxicado. Vi como, frequentemente, os governantes também se intoxicavam e ficavam mentalmente doentes, ao transformarem a realidade em um espelho no qual queriam ser ver lindamente refletidos, sempre estimulados pelos assessores. É apenas a velha doença de Narciso, o personagem mitológico, que se esvai e se consome, seduzido pela própria imagem nas águas.

O tempo passa e o que é popular hoje transforma-se, muitas vezes, em esquecimento amanhã. O que sobra é o frio julgamento da história, na qual se mede a estatura de um homem público. Nesse final de mandato, Lula está deixando imagens muito distantes de um estadista –o que só faz valorizar, pelo menos para a história, a figura hoje tão atacada, tão desprezada (até por seus correligionários), de Fernando Henrique Cardoso que, como Lula, teve seus dias Narciso em Brasília.

(*) Gilberto Dimenstein, 53 anos, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha.com às segundas-feiras.

 

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