A ponte Salvadora

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Por: Ruy Espinheira Filho- Escritor, pertence à Academia de Letras da Bahia

A Educação está em ruínas, gritam os noticiários. Sim, é verdade, está.

Mais em ruínas do que nunca. Não existem escolas suficientes. Quando há escolas, não possuem carteiras. Quando há carteiras, não há telhado (ao menos confiável).

Quando há tudo isso, não há professores.

Quando há professores, recebem um salário tão humilhante que não há abnegação que aguente. Mas não há de ser nada: fala-se em construir uma ponte.

A Saúde está em estado terminal. Os doentes se amontoam em corredores ou são empilhados nas portas dos hospitais. Tanto na capital como em todas as cidades do interior.

Não há camas, nem medicamentos, nem ambulâncias.

Morre-se por nada. A todo instante lemos relatos horripilantes. Estamos em guerra? Há uma peste grassando entre nós? É o que parece. A meningite vem fazendo estragos e a dengue está preparando um ataque arrasador neste verão. A muitos médicos só resta dar um analgésico ao paciente e mandá-lo para casa, onde pelo menos morrerá cercado pelos seus familiares. Aliás, os médicos também recebem pagamento humilhante e, assim, têm que se desdobrar em vários empregos. Resultado: estafa. Resultado seguinte: incapacidade de exercer bem sua função. E também não há médicos suficientes.

Mas, enfim, não há de ser nada: estão dizendo que vão construir uma ponte.

A Segurança está pela hora da morte. Sem brincadeira. Nunca se morreu tanto, de morte violenta, como nos últimos tempos. O último secretário da Segurança andou querendo dar explicações, publicando aulas de sociologia na imprensa, mas o pessoal continuou matando e morrendo às centenas. Os assassinatos são geralmente praticados pelos chamados marginais, assaltantes e similares, mas a polícia também dá a sua colaboração em grande escala. Na verdade, não há segurança hora nenhuma, em lugar algum, nem dentro de casa. Mas, em compensação, prometem que vão construir uma ponte.

Adiante, pois, todos nós, confiantes, com a esperança renovada. Analfabetos, doentes, assassinados nas ruas, que importa – se nos estão garantindo que vão construir uma ponte?

Transcrito do Jornal ATARDE, Edição de 10/02/2010

 

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