Por: Álvaro Lemos
Empresário
Em junho de 1998, escrevia neste prestigioso jornal o artigo “É preciso desmitificar a seca”, do qual destacaria o seguinte trecho” A seca em si é um flagelo da natureza, como são as enchentes, as geadas, os furacões, os terremotos, etc. (na época, não se falava em tsunami), entre todos é de mais fácil equacionamento e combate, além de apresentar a singularidade de não deixar sequelas. Pois, enquanto o fim das enchentes, furacões, etc é um quadro de destruição e tragédia, o término da seca é uma explosão de verde, é a animação da fauna que se encontrava adormecida, é um milagre da natureza”. E continuava: “…com as chuvas que fatalmente chegarão, a terra ressequida será revitalizada, tornando-se fértil e produtiva, os açudes se encherão, saciando a sede de homens e bichos, o sertanejo voltará a labuta do dia a dia e…tudo ficará no mesmo”.
Lamentavelmente, passados estes 14 anos, podemos, frente à seca que mais uma vez nos aflige, antecipar a mesma sentença: “E tudo ficará no mesmo”.
O fato é que continuamos sem um projeto sério, consistente e viável para enfrentar esse drama multissecular que de tempo em tempos atinge gravemente a região penalizando de uma maneira cruel o sertanejo, mas que na verdade é capítulo de uma questão de muito mais amplitude e profundidade, que é escandaloso desnível socioeconômico entre as diversas regiões do País, sem dúvida um dos principais fatores dos nossos baixíssimos indicadores sociais.
Enquanto não existir uma política de Estado determinada a promover um desenvolvimento homogêneo, equilibrado e autossustentado que efetivamente contemple o País como um todo, continuaremos a ver na televisão as imagens do solo ressequido, dos riachos secos, e nos constrangermos com a fisionomia triste e depauperada do nosso irmão sertanejo, que no passado, quando não emigrava para o Sul, sobrevivia graças às famigeradas frentes de trabalho e era saciado pela água dos carros-pipas. Hoje o drama dos retirantes já não existe, mas os carros-pipa continuam servindo aos políticos de plantão e as frentes de trabalho foram sucedidas pelas cestas básicas, mais fáceis de administrar e controlar.
Antes, brincava-se de trabalhar para ganhar o pão, agora ele é ganho desfrutando a sombra de um frondoso juazeiro.
Acabaram com a SUDENE, acusada de má gestão e corrupção, criaram uma nova, cuja voz nem se ouve. Infelizmente não vislumbramos economistas de um porte de um Rômulo Almeida ou Celso Furtado com autoridade moral e intelectual, credibilidade e patriotismo para proporem projetos desvinculados dos subalternos interesses dos grupos econômicos e conveniências da politicagem que infesta o País, que há tantos anos alimentam a chamada indústria da seca e da qual são os seus principais beneficiários.
O Nordeste, que deveria, unido, lutar por profundas mudanças no campo tributário, fiscal e econômico, além de um arrojado programa de investimentos especialmente no campo da educação e tecnologia, perde-se em disputas pequenas e paroquiais, movidas por interesses políticos pessoais. As lideranças do Sul e Sudeste, especialmente as de São Paulo, preferem gozar a opulência de suas ricas metrópoles, cada vez mais poluídas, congestionadas e violentas a se engajarem na aventura de construir uma grandiosa nação, rica, próspera e, sobretudo justa.
Enquanto nada acontece, haja concentração. A questão é simples; faltam estadistas.
Transcrito do Jornal ATARDE – Edição de 29/05/2012
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