Em teleconferência, Aras criticou também ações da Polícia Federal de busca e apreensão no Congresso
Natália Portinari e Aguirre Talento
29/07/2020 – 16:05 / Atualizado em 29/07/2020 – 19:10
O procurador-geral da República, Augusto Aras, voltou a criticar a Operação Lava-Jato em uma audiência com senadores nesta quarta-feira, segundo relato de parlamentares ouvidos pelo GLOBO. Ele repetiu colocações que fez em uma live com advogados na noite desta segunda-feira.
Aras disse nesta quarta-feira que “República não combina com heróis” e que a distribuição de processos na Lava-Jato é passível de fraude. Criticou o fato de a Corregedoria do Ministério Público Federal não ter acesso aos dados da operação e informou que já pediu uma auditoria sobre a maneira como são escolhidos os processos.
Aras também fez críticas a operações de busca e apreensão da Polícia Federal em gabinetes de parlamentares, como as recentes ações contra José Serra (PSDB-SP) e Rejane Dias (PT-PI). Na conversa, ele afirmou que não deu nenhuma autorização a buscas contra senadores e classificou as ações de “grave ameaça”, porque os fatos investigados seriam anteriores aos atuais mandatos.
Em uma live para um grupo de advogados criminalistas que são críticos à Lava-Jato, na segunda-feira, Aras afirmou que a força-tarefa de Curitiba funcionaria com “caixas de segredos” e processos ocultos. Defendeu ainda que o “lavajatismo não perdure”. Na transmissão, o procurador-geral foi elogiado e ovacionado pelos advogados, que atuam para clientes investigados pela operação.
Nesta quarta-feira, Aras foi contatado por senadores e, por mensagem, afirmou desejar “fortalecer o combate à corrupção”. Ele se colocou à disposição para participar da videoconferência com parlamentares. Durante a conversa, ele se explicou e reiterou as críticas à operação.
Aras explicou o uso do termo “lavajatismo” dizendo que o sufixo “ismo” remete a hipertrofia e excessos. Pontuou também que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) já pediu esclarecimentos à força-tarefa em São Paulo, acusando a operação de não seguir a impessoalidade na escolha dos processos.
Em resposta ao CNMP, a força-tarefa da Lava-Jato de São Paulo afirmou que a conexão com os processos da Lava-Jato enviados ao Estado foi reconhecida em portaria editada pelo próprio Aras, que estabeleceu os procedimentos vinculados à força-tarefa.
A reunião contou com senadores que integram o grupo “Muda Senado”, como Álvaro Dias (PODE-PR), Alessandro Vieira (REDE-AP), Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e Oriovisto Guimarães (PODE-PR). Os parlamentares confrontaram Aras sobre suas declarações e questionaram o plano apoiado por Aras de criar um órgão central de combate à corrupção no Ministério Público Federal. A ideia sofre resistência de integrantes da Operação Lava-Jato.
— A reunião foi respeitosa, mas com cobranças firmes por parte dos senadores — disse Alessandro Vieira. — O PGR alterna críticas agudas à Lava Jato, em especial referentes à Força Tarefa, e elogios ao combate à corrupção e ao legado da Lava Jato. No meu entender, as respostas do PGR foram insuficientes.
Aras foi questionado pelos senadores sobre a renovação da força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba, cujo prazo vence em agosto, mas evitou responder diretamente à pergunta e citou que seus antecessores na PGR foram pressionados para renovar o grupo.
— Ele não deu nenhuma garantia de que irá renovar a força-tarefa de Curitiba — afirmou Randolfe Rodrigues.
Fonte: O GLOBO
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