O Estado de S. Paulo
Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, o PT se engajou em um processo de radicalização política que o relegou a um nicho sectário. Isso em nada contribuiu para o arejamento de um dos maiores partidos do País e, em boa medida, tampouco para o saneamento do debate público nacional, obnubilado por uma polarização paralisante da qual o PT é hoje um dos mais entusiasmados patrocinadores.
A prisão do ex-presidente Lula da Silva, em 2018, serviu para agravar esse quadro, tornando o PT cativo de um discurso monocórdio – o surrado “Lula livre” – que, se cala fundo nos corações dos convertidos, é inócuo para o resgate da representatividade que o partido teve em setores mais amplos da sociedade.
Falta um bom tempo até que sejam superados os efeitos nocivos dessa opção petista pela política do rancor, da revanche, em vez da autocrítica diante de evidências tão cabais dos malfeitos cometidos por seus próceres, sejam os de natureza política, sejam os criminais. A boa notícia, no entanto, é que, mais dia, menos dia, a superação virá, mesmo sem o ato de contrição do PT, cada vez mais improvável. Quem perde é o partido.
No dia 7 passado, o PT reuniu sua Comissão Executiva Nacional no Rio de Janeiro a fim de traçar a estratégia do partido para as eleições municipais deste ano. Pelo que se pode ler na Resolução aprovada no encontro, intitulada Derrotar Bolsonaro e seu governo, defender o povo, a democracia e a soberania, com liberdade plena para Lula, o partido parece satisfeito com a nova – e restrita – dimensão a que foi relegado, dobrando a aposta na radicalização. Além disso, o PT revela um profundo alheamento da realidade, atribuindo a si mesmo um grau de relevância política bem maior do que aquele que tem hoje.
“Nas situações em que o PT não encabeça a chapa e o candidato seja de um partido que não integre o espectro citado (PCdoB, PSOL, PDT, PSB, Rede, PCO e UP), somente serão permitidas alianças táticas e pontuais se autorizadas pelo Diretório Estadual, desde que candidato tenha compromisso expresso com a oposição a Bolsonaro e suas políticas e não tenha práticas de hostilidade ao PT e aos presidentes Lula e Dilma. O PT Nacional decide que não ocorram alianças com os partidos que sustentam o projeto ultraneoliberal (sic) – DEM, PSDB – e veta qualquer aliança com aqueles que representam o extremismo de direita em nosso País”, diz a Resolução.
Entre os opositores do PT não há um que rivalize com a arrogância do próprio partido para mantê-lo alijado das discussões sérias que levem o Brasil a sair da crise em que se encontra. O partido se manifesta como se desconhecesse o grau de toxicidade que a sigla passou a representar. Em outras palavras: hoje, as demais legendas é que devem avaliar a conveniência eleitoral de se associar ao PT, não o contrário. Ao menos não enquanto o partido insistir em sua opção pelo radicalismo negacionista.
A Resolução divulgada pelo partido retrata o oposto dos debates havidos na reunião no Rio, que, segundo apurou o Estado, concluíram pela aprovação de alianças até mesmo com partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, desde que autorizadas “pontualmente” pelos diretórios estaduais. A ação teria o objetivo de tirar o PT da condição menor em que se encontra. Não há uma capital de Estado sequer governada por petistas.
Cogitar coligações pontuais com partidos como DEM e PSDB se coadunava com recentes declarações do chefão petista. Segundo Lula da Silva, o PT deveria “ampliar o diálogo com a sociedade”, eufemismo para aquelas coligações pragmáticas. Mas prevaleceu a velha arrogância petista, seja no ataque à “mídia”, que, segundo a presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), “só quer criar confusão” ao revelar as tratativas para as coligações, seja na insistência em uma polarização que é responsável direta pelo amesquinhamento do debate político no País.
Fonte: http://www.josepedriali.com.br/2020/02/a-velha-arrogancia-petista.html?view=sidebar
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