Partidos que devem fazer parte da coligação do presidente elegeram menos prefeitos e deputados federais do que as siglas que estavam ao lado do tucano, em 1998, e da petista, em 2014
Dimitrius Dantas
14/03/2022 – 04:30 / Atualizado em 14/03/2022 – 07:54
SÃO PAULO — Mesmo com a adesão ao Centrão impulsionando o arco de alianças para a reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) terá pela frente um cenário mais adverso na tentativa de alastrar a campanha pelo país, na comparação com os antecessores que buscaram renovar o mandato presidencial. Levantamento do GLOBO mostra que os partidos que devem fazer parte da coligação do titular do Palácio do Planalto elegeram menos prefeitos e deputados federais do que as siglas que estavam ao lado de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, e Dilma Rousseff (PT), em 2014.
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No paralelo com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006, o patamar na Câmara é semelhante, e o volume de municípios que têm à frente um integrante de legenda aliada é bastante superior. Um ponto, no entanto, torna esta análise imprecisa: em 2006, valia a regra da verticalização, em que as alianças nacionais tinham que ser reproduzidas fielmente nos estados, o que inibia os acordos.
Levando-se em consideração o resultado das urnas em 2020, o bloco de apoio a Bolsonaro tem 1.444 prefeitos. Quando FH se candidatou a mais quatro anos — sendo eleito em primeiro turno —, a coligação englobava 2.960 chefes de executivos municipais. Já em 2014, ano em que Dilma superou o tucano Aécio Neves no segundo turno, as legendas do grupo estavam representadas em 2.930 prefeituras. Lula, por sua vez, contava formalmente com 421 prefeitos. Analistas destacam que lideranças locais exercem papel importante por darem capilaridade às campanhas, amplificando as mensagens e o potencial de votos dos candidatos.
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Há outros fatores que podem ser acrescidos à desvantagem matemática. Como O GLOBO mostrou, existem prefeitos e parlamentares de siglas alinhadas ao Planalto que vão apoiar Lula, principal adversário de Bolsonaro. Em Nova Iguaçu, por exemplo, quarto maior colégio eleitoral do Rio, o prefeito Rogério Lisboa (PP) disse que fará campanha para o petista — o PP, a despeito de comandar a Casa Civil, posto-chave do governo, liberou as lideranças locais a se posicionarem como bem entenderem. As defecções ocorrem também no Nordeste, região em que o desempenho de Bolsonaro está abaixo de sua média nacional. O deputado federal Eduardo da Fonte, presidente do PP em Pernambuco, também já anunciou que estará com Lula.
Líder em rejeição
Caso seja confirmada a aliança unindo PL, PP, Republicanos, PTB e PSC, Bolsonaro terá o apoio de partidos que, somados, elegeram 119 deputados. Com PSDB, DEM (então PFL, hoje União Brasil), PTB, PP e o antigo PSD, FH reuniu na coligação, em 1998, legendas que haviam eleito 311 deputados. Na chapa de Dilma, PT, MDB, o atual PSD, PP, PL, Pros, PDT, PCdoB e Republicanos, por sua vez, somavam 272 deputados. Lula, em 2006, reuniu PT, PCdoB e Republicanos (então PRB), que tinham 103 deputados.
Parte da explicação para a aderência inferior à de presidentes anteriores é exemplificada em outros números: segundo a pesquisa Datafolha mais recente, de dezembro de 2021, o governo Bolsonaro é rejeitado por 53% dos eleitores, grupo que classifica a gestão de ruim ou péssima. Dilma, com três anos de mandato, era reprovada por 17%; Lula, por 29%; e FH, por 20%.
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Por outro lado, a força da máquina do governo pode levar prefeitos e parlamentares que não integram oficialmente a chapa de Bolsonaro a apoiá-lo. Além disso, o presidente vem capitaneando um movimento de filiação de bolsonaristas ao PL, simbolizado pelo evento, no sábado, em que 15 deputados migraram para a sigla, a maioria egressa do União Brasil. Em outra iniciativa para consolidar apoios, o governo planeja uma reforma ministerial que deve privilegiar núcleos próximos, como ruralistas, militares e o próprio Centrão — a estratégia também reflete a dificuldade de atrair mais grupos para o projeto de reeleição.
— Os números mostram o quão tortuoso foi o primeiro mandato e como os outros presidentes chegaram mais fortes que ele (Bolsonaro) para a reeleição. A Dilma, assim como Bolsonaro, era considerada uma presidente pouco agregadora, mas, com todas as dificuldades, ainda controlou esse processo de reeleição — resume o cientista político Carlos Melo, do Insper, acrescentando uma ponderação: — É preciso ver os tamanhos dos partidos após a janela partidária.
FONTE: O GLOBO
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