Análise: Tensos, Lula e Bolsonaro não venceram

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Duelo histórico entre líderes populares teve petista inseguro e presidente tropeçando em velhos erros próprios ao desrespeitar mulheres. Ciro e Simone Tebet apareceram ao confrontar favoritos da eleição

Por Miguel Caballero — Rio de Janeiro

29/08/2022 04h30 

Dois tipos de candidatos costumam ser os mais atacados em debates eleitorais: o que está no governo e o que está na liderança das pesquisas de intenção de votos. Frequentemente eles são a mesma pessoa, mas ontem, na Band, o presidente Jair Bolsonaro foi o principal alvo dos concorrentes. Foi apertado em diversos assuntos por quase todos os rivais, mas criou ele mesmo, sozinho, seu pior momento no programa ao ofender a jornalista Vera Magalhães.

Lula, com ampla vantagem nas pesquisas, vinha de uma entrevista ao Jornal Nacional na qual a avaliação positiva de seu desempenho foi quase consensual. Logo de cara, porém, passou insegurança no embate com Bolsonaro ao fugir da resposta quando questionado sobre a corrupção na Petrobras.

A posição mais confortável de franco atiradores, sem ter passado pelo Planalto, ajudou uma participação menos tensa de Ciro Gomes e Simone Tebet, que obtiveram algum destaque ao confrontar os favoritos. O pedetista apertou bem o presidente e foi o primeiro candidato a trazer o tema da fome à discussão. A senadora teve bom momento quando cobrou Bolsonaro sobre desrespeito às mulheres e a condução da pandemia. Neste bloco, ela chegou a ser apontada como a candidata de melhor desempenho segundo pesquisa qualitativa do Datafolha feita com eleitores indecisos em tempo real.

O presidente precisa se recuperar de seu mau desempenho no eleitorado feminino (29% de intenção de voto, segundo o Datafolha) e se preparou para isso ao levar uma lista de programas do governo voltados para mulheres. Mas o tema ganhou protagonismo no encontro por uma reincidência presidencial na já longa lista de declarações com ofensas de gênero.

Logo após o destempero de Bolsonaro, a agressão à jornalista ocupava várias das primeiras posições no ranking de buscas do Google no Brasil ainda durante o debate. De certa forma, o bolsonarismo provava do próprio veneno ao ver as redes sociais dominadas por um assunto desconfortável, tática que costuma exercer com eficácia em prejuízo dos adversários.

Depois de ter agregado à ofensa uma resposta ruim na qual apontou “vitimismo” das mulheres, o presidente mostrou que havia sentido o golpe quando, no bloco seguinte, retomou o assunto para amenizar sua posição e chegou a se desculpar pela notória frase da “fraquejada” ao se referir à sua filha Laura.

Mais do que o candidato preferido para chegar ao Planalto, Bolsonaro e Lula são ídolos de seus eleitores. No caso do petista, mesmo alguns dos torcedores mais fiéis manifestavam preocupação nas redes sociais com o primeiro embate com o atual presidente. Já era um confronto histórico mesmo antes de ter acontecido: pela primeira vez na história das eleições brasileiras, dois presidentes da República debateram ao vivo numa disputa eleitoral.

Lula fez ouvidos moucos para a pergunta de Bolsonaro sobre Petrobras, mas demorou a contra-atacar citando escândalos do atual governo ou da família presidencial. O petista foi melhor na interação com outros candidatos, como quando falou sobre redução da pobreza em resposta a Soraya Thronicke ou ao se referir em tom elogioso a Ciro e Tebet. Os agrados eram um aceno aos eleitores dos dois adversários, seguindo o planejamento de buscar os votos que faltam para uma vitória no primeiro turno.

O encontro de ontem reuniu um líder que ocupa a Presidência mas fazia apenas seu terceiro debate na TV na carreira; um experiente político popular, campeão de votos mas afastado das eleições desde 2006; um veterano de campanhas e uma estreante, além de dois “figurantes” que também fizeram barulho. Houve embates mais e menos ríspidos, direitos de resposta negados e concedidos, ironias, deboches, mentiras a respeito dos outros e principalmente para valorizar os próprios feitos e virtudes. Ao fim, ajudou a esquentar a corrida ao Planalto.

FONTE: O GLOBO

 

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