Apagão nordestino afeta Pólo Petroquímico de Camaçari durante cinco dias

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Por: Rafaela Anunciação, da Agência A TARDE e Amélia Vieira, do jornal A TARDE

SALVADOR – As atividades nas empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari (Região Metropolitana de Salvador), em especial as que operam no segmento químico/petroquímico, só estarão normalizadas dentro de cinco dias, em consequência do apagão que atingiu oito Estados da região Nordeste, na noite da última quinta-feira (3) e interrompeu o fornecimento de energia elétrica a 87,5% dos consumidores da Bahia. O presidente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), associação privada que representa empresas do Pólo, Manoel Carnaúba, disse que os prejuízos ainda estão sendo levantados, mas observou que, além do golpe sofrido pelas empresas, haverá danos significativos para a economia baiana como um todo.

“Ainda é precoce falar em números, mas é preciso lembrar que o Pólo de Camaçari representa 33% do PIB (Produto Interno Bruto) da Bahia e um dia parado representa um perda significativa”, ressaltou o presidente do Cofic. Em fevereiro de 2010, o Nordeste também passou por um apagão. Na época, a Chesf afirmou que a interrupção no fornecimento de energia teria ocorrido devido a um problema nas linhas de transmissão que interligam as regiões Sudeste e Norte.

ENGARRAFAMENTOS – Na manhã desta sexta-feira (4), a partir das 7h30, foram dispensados os funcionários administrativos de 30 empresas situadas no complexo industrial. Todas as vias de acesso foram bloqueadas e os trabalhadores mandados de volta para casa. Apenas os funcionários ligados à operação e manutenção tiveram acesso liberado.

O fato gerou grande engarrafamento nas rodovias de acesso ao Pólo. A razão do bloqueio demorou a ser explicada, o que motivou muitas especulações, como a possibilidade de estar ocorrendo vazamento de gás ou produtos tóxicos. A justificativa só veio por volta das 9h, quando o Cofic distribuiu uma nota oficial, tranquilizando a comunidade ao garantir que as condições de segurança na área estavam asseguradas.

“Por questão de segurança, limitamos o acesso ao Pólo. Ficamos mais de duas horas sem energia elétrica e, por isso, os equipamentos pararam de funcionar”, explicou Manoel Carnaúba. Segundo ele, não houve registro de vazamento de gases tóxicos. “É bom esclarecer que todas as medidas de segurança foram tomadas. No que diz respeito aos produtos químicos, armazenamos o que foi possível armazenar e o restante está sendo queimado”, esclarece o presidente do Cofic.

De acordo com informações extraoficiais, a decisão de interromper o acesso à área do Pólo e a adoção de medidas preventivas se deu por causa de um problema na indústria White Martins, que é responsável pelo fornecimento de nitrogênio para o resfriamento das companhias instaladas no complexo. O apagão teria interrompido a distribuição do gás, o que obrigou a adoção do plano preventivo, com o isolamento da área e a retirada dos funcionários de setores administrativos. O acesso ao Pólo só foi liberado no final da manhã.

DEMORA – O diretor de imprensa do Sindicato dos Químicos e Petroleiros, Carlos Itaparica, explicou que quando as plantas (unidades de produção das fábricas) param, é preciso queimar todo o resíduo antes de reiniciar as atividades normais. E garantiu que a paralisação das atividades trouxe muitos riscos para as pessoas e para o meio ambiente. “Uma planta parada sempre tem perigo de vazamento”, observa o sindicalista.

Ele também criticou a forma como foi feita a evacuação dos funcionários das empresas, de forma muito lenta na sua avaliação: “Demorou uma hora e meia. Devia ser em minutos”, opinou, acrescentando que também foi demorada a decisão da retirada das pessoas. “Houve um vacilo. A Brasken decidiu primeiro, mas as outras demoraram”.

O sindicalista lembra que o Pólo de Camaçari possui quatro termoelétricas, com capacidade, inclusive, para fornecer energia para as cidades vizinhas, mas que não podem ser usadas em momentos de emergência, como o registrado na noite da quinta-feira, porque precisam de tempo para entrar em operação.

OUTRAS INDÚSTRIAS – A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) considera que, além dos prejuízos financeiros causados às empresas, ocorrências como esta provocam uma crise de confiança no sistema de geração e fornecimento de energia elétrica por parte dos setores produtivos e também da sociedade. “Enquanto não houver um detalhado esclarecimento por parte da Chesf quanto aos motivos que provocaram o apagão e os mecanismos que serão utilizados para evitar a sua repetição, a confiança não poderá ser restabelecida. É preciso discutir ainda quem arcará com o prejuízo de empresas e da população em ocorrências como essas”, afirmou João Marcelo Alves, superintendente de Desenvolvimento Industrial da Fieb.

A entidade passou a manhã avaliando os problemas causados pela interrupção no fornecimento de energia elétrica, mas até o final da tarde não era possível quantificar os prejuízos sofridos pela economia estadual em razão da paralisação de parte significativa do parque industrial do Estado. “A interrupção no fornecimento de energia gerou uma parada de produção em muitas empresas do estado, impactando suas cadeias”, explicou João Marcelo Alves.

Como a interrupção no fornecimento de energia aconteceu em horário de pouca movimentação de pousos e decolagens, o Aeroporto Internacional de Salvador Deputado Luís Eduardo Magalhães não enfrentou muitos problemas, segundo as informações oficiais. Até o final da manhã haviam sido registrados atrasos em somente três voos e dois tinham sido cancelados, dos 41 previstos para o período.

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