Conheça também as cidades brasileiras que farão o mesmo nos próximos dias
Bernardo Yoneshigue
04/03/2022 – 10:54 / Atualizado em 04/03/2022 – 17:56
Depois de bater recordes diários durante o mês de janeiro, os casos de Covid-19 no Brasil apresentam uma tendência de queda pelo 22º dia seguido, como mostrou o consórcio de veículos da imprensa, o que trouxe de volta o debate sobre a flexibilização do uso de máscaras. Na próxima segunda-feira, a cidade do Rio de Janeiro deverá se tornar a primeira capital brasileira a liberar a obrigatoriedade do item por completo, em ambientes abertos e fechados, e outras cidades já se movimentam para dispensar a proteção pelo menos ao ar livre.
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Após a permissão, nesta quinta-feira, pelo governo do Rio para que os municípios fluminenses decidam de forma independente sobre a flexibilização em locais fechados, o comitê científico da prefeitura da capital vai se reunir para discutir sobre a liberação da medida. Desde outubro do ano passado, a proteção já não é mais obrigatória em locais abertos. Para o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, o momento da pandemia na cidade é propício para o debate:
— A gente está vendo os números de casos, casos graves e internações em constante queda. Hoje menos de 1% dos pacientes internados na cidade são com Covid-19 e a taxa de positividade dos testes está em 3,8%, que é considerada uma taxa baixa pela Organização Mundial de Saúde. Então a gente tem um cenário epidemiológico cada vez mais favorável — afirma o secretário.
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Além do Rio, ao menos seis outras capitais flexibilizaram o uso do acessório. Veja a lista a seguir:
Liberação total de máscara
- Rio de Janeiro: Comitê científico da prefeitura irá se reunir na próxima segunda-feira para decidir sobre a liberação do uso de máscaras em locais fechados. Em ambientes abertos, já é permitido desde outubro.
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Liberação apenas em ambientes abertos
- São Luiz: Na capital do Maranhão já está liberada a circulação sem máscara em ambientes abertos desde novembro.
- Cuiabá: Na cidade, também já está liberada a circulação sem máscara em ambientes abertos desde novembro.
- Belo Horizonte: Prefeitura da cidade publicou um decreto nesta sexta-feira, que já está em vigor, em que dispensa a obrigatoriedade da máscara ao ar livre. Segundo o prefeito, Alexandre Kalil (PSD), a decisão foi tomada após deliberação do comitê de enfrentamento à pandemia.
- Brasília: Governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou, na quinta-feira, a liberação do uso de máscaras em locais abertos “diante da queda dos casos de Covid-19 no Distrito Federal”. O decreto foi publicado nesta sexta-feira e entra em vigor a partir da próxima segunda.
- São Paulo: Na quinta-feira, o governador João Doria (PSDB) afirmou que “há uma boa tendência” para a liberação do uso de máscaras em ambientes abertos no estado. A decisão será tomada em reunião do comitê científico na próxima terça-feira.
- Goiânia: Secretaria Estadual de Saúde de Goiás pretende avaliar a flexibilização do decreto que obriga o uso de máscaras no estado duas semanas após o Carnaval.
- Porto Alegre: No Rio Grande do Sul, o governo dispensou a obrigatoriedade da proteção facial para crianças menores de 12 anos no último sábado.
- Florianópolis: O governo de Santa Catarina liberou nesta quarta-feira o uso de máscaras para crianças entre 6 e 12 anos nesta semana.
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As medidas que flexibilizam o uso do item seguem uma tendência mundial em locais onde a pandemia está em estágio de desaceleração. No último mês, países como Itália e Espanha, que haviam retomado a obrigatoriedade da máscara ao ar livre no fim do ano passado para conter a variante Ômicron, anunciaram o relaxamento da medida.
Já na França, desde o fim de fevereiro a proteção é liberada também em locais fechados, mas apenas onde o comprovante de vacinação é exigido. A medida não se aplica ao transporte público.
O que pensam os especialistas
Para o pesquisador da Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR, Vitor Mori, ainda é prematuro falar em flexibilização de máscaras em lugares como transportes públicos, ambientes hospitalares, casas de repouso e academias. Porém, para ambientes abertos, onde o risco de contágio é menor, o especialista defende que a liberação apresenta menos riscos:
— Menos de 1% da transmissão acontece ao ar livre, então flexibilizar nesse caso não me parece tão crítico. Acho que a grande questão é ter uma dimensão da diferença de riscos entre os espaços. É uma boa oportunidade para incentivar as pessoas a saírem de espaços fechados e irem para locais abertos.
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O infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, também acredita que a flexibilização é possível no momento, mas ressalta que os estados e municípios precisam levar em consideração suas taxas de vacinação, de positividade dos testes, de médias móveis de casos e mortes e ocupação de leitos antes de tomar a decisão.
— Por exemplo, mais de 80% da população vacinada é um bom indicador. Uma taxa de positividade abaixo de 5% também é. Mas o ideal é flexibilizar de forma gradativa, para avaliar o impacto dessas medidas a cada duas semanas e observar se houve um aumento nos casos — diz Croda.
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A liberação para lugares fechados, especialmente no caso de crianças em ambientes escolares, ainda é vista com preocupação pelos especialistas. Apenas 45,23% das crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose da vacina.
— Para mim é um equívoco liberar o uso de máscaras dentro das escolas com poucas crianças vacinadas, aquelas abaixo de cinco anos ainda sem poderem se vacinar e também sem conhecermos o real impacto da Covid longa na pediatria — defende o infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri.
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No Brasil, a discussão acontece no momento em que o país saiu de um pico de quase 200 mil casos de Covid-19 por dia, em janeiro, para uma média móvel de cerca de 65 mil diagnósticos diários. A desaceleração é atribuída pelos especialistas ao avanço na vacinação e ao grande número de pessoas contaminadas pela Ômicron durante os últimos meses.
— É uma combinação. Uma alta taxa da população vacinada e uma enorme proporção dela recentemente infectada pela Ômicron. Isso porque a variante infecta tanta gente que não encontra mais pessoas suscetíveis para serem contaminadas, o que cria o que chamamos de uma imunidade híbrida, pela infecção e pela vacina, que protege a população de novas ondas, ao menos no curto prazo — explica Kfouri.
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Além de menos agressiva — segundo uma série de estudos, a Ômicron causa menos danos aos pulmões por ser mais infecciosa na parte superior do sistema respiratório —, a variante predominante hoje também confere proteção para sua nova sublinhagem, a BA.2. Um estudo dinamarquês mostrou que a reinfecção nesse caso é rara, e que 89% das pessoas que tiveram um segundo diagnóstico da Ômicron não tinham tomado nenhuma dose de vacina contra a Covid-19.
Entre os especialistas ouvidos pelo GLOBO, todos apontam que o mais importante agora é intensificar o ritmo de vacinação para que a pandemia seja controlada no país. Isto é aumentar a proporção de vacinados com a primeira dose, especialmente na população infantil que apresenta índices mais baixos, e destacar a dose de reforço.
Eles afirmam que a terceira aplicação é indispensável no contexto da variante Ômicron — que é mais resistente a apenas duas doses da vacina — e devido à queda de proteção que é vista após meses da segunda aplicação. Hoje, o país tem 80,44% da população com uma dose, 72,3% com as duas aplicações e 30,4% com a proteção completa.
FONTE: O GLOBO
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