Auxílio emergencial deve evitar queda maior do PIB, com estímulo a consumo das famílias

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auxílio emergencial, que pode injetar até R$ 300 bilhões na economia, tem efeitos que vão além da manutenção da renda dos trabalhadores que perderam o emprego na pandemia. Especialistas avaliam que os recursos podem reduzir em 27% a queda do Produto Interno Bruto (PIB) e aliviar o caixa do governo, já que R$ 75 bilhões devem voltar aos cofres públicos por meio de arrecadação de impostos.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, calcula que, sem o programa dos R$ 600, a economia poderia ter um tombo de 2,5 pontos percentuais maior. Como o mercado projeta recessão de 6,5% este ano, sem o auxílio, a retração chegaria a 9%, como estima o Fundo Monetário Nacional (FMI).

O auxílio é um dos elementos que ajudam a explicar uma queda menor do PIB. O recuo de 9% do FMI acaba parecendo um pouco forte nessas condições — diz Vale.

O componente que vai fazer o PIB cair menos será o consumo das famílias, que responde por 64,5% da economia. Vale diz que, supondo que todo o benefício seja gasto, adiando o pagamento de dívidas, o consumo cairia 3,7% em vez dos 7,6% previstos.

Na arrecadação de impostos, Pedro Schneider, economista do Itaú, prevê retorno de 30% dos R$ 254 bilhões que o governo estima gastar com o benefício, já contando a prorrogação dos R$ 600 por mais dois meses, anunciada semana passada.

Considerando pagamento de dívidas ou poupança com o auxílio, e o restante sendo gasto, entrariam R$ 75 bilhões em impostos no caixa do governo. A carga tributária corresponde a 33,5% do PIB.

Um mês de auxilio custa R$ 65 milhões. O Bolsa Família custa R$ 33 bilhões por ano. Muito mais dinheiro está sendo colocado na economia. Isso tem repercussão na atividade econômica e na arrecadação — afirma Schneider.

Custo fiscal

Especialistas alertam, no entanto, que manter o programa por muito mais tempo teria impacto nas contas públicas, que já estavam no vermelho antes da crise provocada pelo novo coronavírus.

Schneider afirma que o Itaú revisou a previsão de déficit primário (receitas do governo menos as despesas, antes do pagamento de juros) na última sexta-feira, exatamente por prever a manutenção da ajuda por mais meses. A estimativa de rombo aumentou de 10,2% para 11% do PIB.

— O governo está gastando, e isso vai ser importante para atividade. Nossa preocupação é o dia seguinte, caber no teto de gastos (regra fiscal que impede que as despesas cresçam mais que a inflação do ano anterior) — alerta Schneider.

O Instituto Fiscal Independente (IFI), ligado ao Senado, prevê que o auxílio injetaria ao todo R$ 309 bilhões na economia se houvesse mais três parcelas de R$ 600.

— O benefício não resolve o problema, mas impulsiona a atividade e gera algum retorno na arrecadação. Dados de ICMS mostram quedas menores, por causa desse tipo de medida, principalmente em bens de primeira necessidade. Há queda menor do que teria sem o auxílio — diz Felipe Salto, diretor executivo do IFI.

Apesar das fraudes, grande parte do auxílio está indo para as famílias de renda mais baixa, nas quais a destinação do dinheiro para o consumo é mais imediata.

Estudo do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o auxílio emergencial conseguiu recompor mais de 100% da renda do trabalho perdida entre as famílias mais pobres. Nesses lares, a proporção dos que receberam auxílio emergencial chegou perto de 50%; entre os ricos, a parcela cai para 3,35%.

— Amenizou a queda da renda das famílias, principalmente das mais pobres. O auxílio recompôs tudo ou foi até maior do que elas recebiam — afirma Sandro Sacchet de Carvalho, autor do estudo.

Foi o caso do vendedor ambulante Renato Souza, de 41 anos, que faturava entre R$ 1.000 e R$ 1.500 antes da pandemia. Ele já recebeu as duas primeiras parcelas do auxílio de R$ 600. A mulher é cadastrada no Bolsa Família e, como tem uma filha, passou a receber R$ 1.200 de benefício.

— O valor de R$ 600 não é muito. Só de aluguel eu pago R$ 500, então, não sobra nada. Com o da minha esposa, pagamos as outras contas.

Souza vendia seus produtos no Largo do Encantado, na Zona Norte do Rio, mas, com as medidas de distanciamento social para conter a pandemia, não conseguiu mais trabalhar:

— Eu poderia ficar o dia inteiro ali que não faria R$ 50. Sou privilegiado porque, na minha casa, duas pessoas receberam o auxílio. Não sei como faria sem esse dinheiro. Você não vive o mês todo com R$ 600, ainda mais com uma criança.

Queda menor na renda

O diretor da FGV Social, Marcelo Neri, chama a atenção, contudo, para as mudanças na maneira de calcular o impacto dos recursos injetados na economia. Com o comércio e os serviços parcialmente parados, não há onde consumir:

— Sabemos que o auxílio é bastante pró-pobre, mas a certeza que esse dinheiro vai para o consumo não está tão garantida como antes.

A consultoria Tendências prevê que a renda das famílias terá queda de 2,3%, muito sustentada pelas transferências do governo.

(Colaborou Vitor da Costa, estagiário sob supervisão de Alexandre Rodrigues) 

Fonte: O GLOBO

 

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