À noite é possível ver pessoas perambulando sem destino e fumando agitadas nas cercanias da estação rodoviária de Petrolina
Pablo Pereira – O Estado de S.Paulo
O surgimento da uma cracolândia na caatinga, uma preocupação para os policiais do sertão pernambucano, na verdade, já está em andamento. Quem passar alguns minutos durante a noite nas cercanias da estação rodoviária de Petrolina, por exemplo, pode ver dependentes, com suas pernas finas, magros, sujos, sacudindo cobertores imundos, fumando agitados sob árvores do estacionamento ao ar livre.
“Eles ficam por ali direto, consumindo crack e outras drogas”, diz um comerciante que pediu para não ser identificado. Além da pedra, consomem cola, solventes, maconha. No fim da noite, quando o movimento diminui, eles se juntam para dormir em cantos de paredes do outro lado da rua, bem na frente do ponto de táxi. “São moradores de rua. Muitos já foram abordados”, explica o delegado Glaukus Menck, gestor do Sertão 2, divisão policial da região.
Durante quatro dias, a reportagem do Estado percorreu 953 quilômetros no sertão, entre Bahia e Pernambuco, recolhendo depoimentos, ouvindo relatos de policiais, agentes de saúde (muitos que pedem para não ser identificados, por razões de segurança) e outras autoridades.
Ao lado da rodoviária, a reportagem flagrou dependentes químicos reunidos em pequenos grupos, consumindo drogas à noite. Na terça-feira, dia 6, por volta de 20h, eles já estavam agitados. Enquanto um trabalhava como flanelinha no estacionamento da rodoviária, recebendo trocados dos motoristas, outros três, mais uma mulher, faziam a droga rodar de mão em mão, acocorados.
Dois dias depois, na quinta-feira, dia seguinte ao feriado da Semana da Pátria, às 22h20, quando Deivid marcou o gol do Flamengo contra o Corinthians, e motoqueiros, taxistas e curiosos festejaram no ponto de táxi, os viciados não se importavam nem com a presença de uma viatura da PM estacionada do outro lado da rua.
O Corinthians, depois, virou o jogo, vencendo os cariocas por 2 a 1. Ao lado da barraca da televisão dos taxistas, o grupo de viciados só se dispersou quando os PMs, depois de permanecerem em uma mesa do bar, na calçada oposta, por alguns minutos, passaram entre eles na direção da rodoviária.
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