Agressão deve estimular os candidatos que prezam a política a se dissociar desse circo
Diz um adágio popular que nunca se deve lutar contra um porco na lama, porque ambos se sujam, mas só o porco gosta. Pois o candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, está desde o princípio tentando arrastar a campanha eleitoral para a pocilga, e no domingo, num debate na TV Cultura, conseguiu que um dos candidatos, o igualmente novato José Luiz Datena (PSDB), afinal se emporcalhasse: o tucano esqueceu as regras do debate e da civilidade e atirou uma cadeira em Marçal.
Ao fazê-lo, o sr. Datena atingiu não apenas o adversário que o ofendia, mas também, e principalmente, o eleitor. É claro que não se espera que políticos tenham sangue de barata e que não reajam de alguma forma ao que consideram uma injúria, mas a atividade política só faz sentido se for exercida por meio da palavra, mesmo num ambiente tenso. Aliás, é exatamente para isso que serve a política: para que divergências sejam eventualmente superadas de forma razoavelmente civilizada e conforme regras aceitas por todos. Fora disso, é briga de rua – e os rufiões que hoje investem na truculência e na desagregação para angariar a simpatia de eleitores desencantados com a política devem ser contestados no discurso e no voto, jamais na violência.
Felizmente, ao que parece, o mesmo debate em que o sr. Marçal e o sr. Datena rolaram na lama mostrou que, a despeito da pobreza de ideias que até aqui tem sido a tônica desses encontros, os eleitores têm alternativas, digamos, tradicionais, à esquerda, à direita e ao centro.
Cabe a esses candidatos se dissociarem o quanto antes do circo protagonizado pelo sr. Marçal e que agora tem o sr. Datena como coadjuvante. Cada provocação de Marçal, que avacalha os debates para ganhar os holofotes que lhe faltam na propaganda eleitoral na TV, deve ser respondida com indiferença, por mais que eventualmente fira a honra e a dignidade, que é precisamente o objetivo do candidato do PRTB.
Para isso, está mais do que na hora de os demais candidatos pararem de insinuar que seus adversários consomem drogas e agridem cônjuges, entre outros assuntos totalmente irrelevantes para a cidade. A continuar nessa toada, os eleitores talvez tenham que votar naquele que restar de pé no ringue, como sobrevivente da baixaria generalizada, e não no candidato com as melhores ideias para uma cidade tão complexa como São Paulo.
De tudo que se viu nesta campanha até aqui, e particularmente com a deprimente cena da cadeirada, pode-se dizer que não tivemos propriamente uma disputa por votos, mas por “likes” – cujo nível de acumulação parece ter se tornado sinônimo universal de sucesso ou de fracasso. E, como todos sabemos hoje, quem investe no ultraje tem conseguido fazer dos algoritmos das redes sociais seus maiores cabos eleitorais, ao criar um círculo vicioso que recompensa o desrespeito e a brutalidade.
É bom lembrar, contudo, que governar São Paulo demanda muito mais do que competência para induzir os algoritmos das redes sociais a criar a falsa sensação de apoio eleitoral. É preciso conhecer a cidade e seus problemas.
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