A um ano das eleições municipais, gestão petista vem levando conjunto de serviços aos municípios e, de quebra, busca pavimentar a relação com políticos locais
Por Bruno Góes
, Gabriel Sabóia e Lauriberto Pompeu
07/11/2023
A um ano da eleição municipal e em meio à preocupação com o desempenho do PT e de aliados no pleito de 2024, o Palácio do Planalto tem aproveitado uma ação do próprio Executivo para intensificar a relação com prefeitos de diferentes partidos. Com a “caravana federativa”, o governo leva um conjunto de serviços federais aos municípios e, de quebra, pavimenta a relação com políticos locais, ativo para o momento em que os palanques começarem a ser desenhados. Atento ao movimento, o PL, principal legenda da oposição, barrou a participação de filiados nos atos.
O governo federal reúne gestores, ministros e servidores de pastas, além de funcionários de bancos públicos, para tirar dúvidas de políticas e apresentar ações de interesses regionais. O objetivo oficial é facilitar o trabalho da burocracia local e destravar projetos.
O cunho político-eleitoral, contudo, foi evidenciado nos discursos de autoridades. Em um auditório lotado de prefeitos em Salvador, por exemplo, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), fez considerações sobre a importância de os gestores apoiarem Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, tratou do pleito do próximo ano, em evento transmitido pelo canal Gov.br, do governo federal, e pela TV PT, do partido de Lula.
— Ano que vem é eleitoral. Precisamos estabelecer um pacto: nos 417 municípios da Bahia, se tivermos de mudar, mudar para melhor. Se tivermos de manter os atuais prefeitos, que seja nessa aprendizagem, de diálogo permanente. É fundamental ajudar o presidente Lula a reconstruir o Brasil — disse Jerônimo.
Valdemar veta
Procurado, o governador da Bahia não se manifestou. As caravanas, organizadas pela Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, pasta comandada por Alexandre Padilha, também já passaram por Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Segundo o governo, as 27 unidades da federação serão contempladas.
De olho na adesão de prefeitos da oposição nas caravanas, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, recomendou aos filiados que não participem mais dos eventos. Nas ações realizadas na Bahia e no Rio, por exemplo, foi possível ver bolsonaristas no palanque montado pelo governo.
Na avaliação da cúpula do PL, a presença de prefeitos nesses eventos passa uma mensagem ao eleitorado de que há a colaboração direta do governo federal com os Executivos municipais comandados por oposicionistas — o que fortaleceria o governo Lula. Além disso, a proximidade com os petistas neutralizaria o papel de Bolsonaro no pleito municipal.
Nas edições do programa, ministros e secretários do governo federal reforçam que o objetivo é recuperar o pacto federativo e que a ação não está ligada a qualquer projeto eleitoral. Segundo aliados que participaram dos eventos, no entanto, as ações podem ser importantes para dar capilaridade às políticas de Lula e, lá na frente, retomar o protagonismo no pleito.
O Planalto avalia que Bolsonaro falhou na interlocução com municípios e atentou contra as instituições. Para marcar posição, desde que assumiu, Lula vem defendendo publicamente a importância de atender todos os gestores.
Na semana passada, o presidente afirmou que pretende se concentrar mais em viagens dentro do território nacional a partir de 2024. Após priorizar os destinos internacionais no início do seu terceiro mandato, a intenção é percorrer o país inaugurando obras no ano que vem, que é eleitoral.
No Rio Grande do Sul, uma das convidadas para abrir o evento foi a deputada federal Maria do Rosário, pré-candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre. Ao lado do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e do vice-governador do estado, Gabriel Souza (MDB), ela tratou a caravana como uma “ação política de P maiúsculo” e não deixou de fazer uma contraposição à gestão de Bolsonaro:
— Na pandemia, o governo federal faltou. Agora, temos de novo uma federação.
Ela trava uma disputa interna na sigla e, recentemente, escreveu uma carta para informar que não deseja ter seu nome submetido às prévias para definição da candidatura. Declarou que está “à disposição do partido para a construção de unidades, mas jamais para disputas internas”. A candidatura também é almejada pela deputada estadual Sofia Cavedon, que deseja as prévias e também estava na mesa de abertura da caravana no Rio Grande do Sul. Procurada, Maria do Rosário não respondeu.
— Voltamos a olhar para o Rio Grande do Sul com investimentos do governo federal — complementou Pimenta.
A leitura entre auxiliares de Lula é de que os efeitos de políticas públicas e programas lançados neste ano só serão sentidos pela população em meados do ano que vem. Uma das principais apostas do governo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, ainda está em fase de lançamentos regionais, com poucas obras em execução e outras em fase de licitação. O programa tem sido citado pelos ministros que participam das edições da caravana.
Na edição do evento no Rio, gestores tiraram dúvidas sobre a próxima etapa do PAC, com possibilidade de investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura urbana, incluindo melhorias em favelas. Na abertura, o governador Cláudio Castro (PL) e o prefeito Eduardo Paes (PSD) ressaltaram que o governo federal está aberto ao diálogo — Castro é do partido de Bolsonaro. Paes aproveitou para saudar o prefeito de Maricá, Fabiano Horta (PT), e se referiu à cidade como “a melhor do Estado do Rio de Janeiro” — relembrando a ocasião em que foi gravado dizendo a Lula que a cidade era uma “merda”. O PT caminha para apoiar a reeleição do prefeito no município.
Deixar o ‘fundo do poço’
O PT tentará no ano que vem se recuperar do resultado negativo na eleição de 2020, quando não elegeu nenhum prefeito de capital e conseguiu apenas 183 cadeiras, atrás de dez outros partidos. A legenda já anunciou que tem como prioridade ter candidatos próprios em municípios com mais de 100 mil habitantes, mas já sinalizou que vai apoiar aliados em capitais como Rio, São Paulo, onde há acordo com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), e Recife, em que a tendência é a aliança com o prefeito João Campos (PSB).
Coordenador do grupo de trabalho que organiza a estratégia eleitoral do PT para 2024, o senador Humberto Costa (PE) evita estabelecer uma meta, mas considera difícil repetir o resultado de 2004, quando, dois anos após a primeira vitória presidencial de Lula, venceu em nove capitais.
— Bombar como em outros momentos é pouco provável, mas o PT vai ter um crescimento significativo no número de prefeituras. Em 2020, foi o fundo do poço — resumiu ele.
De acordo com o parlamentar, o PT deve ter candidato em Porto Alegre, Florianópolis, Vitória, Belo Horizonte. Há possibilidade forte também de nomes próprios em Salvador, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Natal, Fortaleza e Teresina. Uma reunião em Brasília, em dezembro, com a presença de Lula, vai refinar os planos para 2024.
Acenos do Executivo e resposta da oposição
- Bahia: O governador Jerônimo Rodrigues (PT) fez considerações, em um auditório lotado de prefeitos em Salvador, sobre a importância de os gestores apoiarem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, tratou das eleições municipais do próximo ano, em evento transmitido pelo canal Gov.br, do governo federal, e pela TV PT. “É fundamental ajudar o presidente Lula a reconstruir o Brasil, disse o governador baiano.
- Rio Grande do Sul: Uma das convidadas para abrir o evento foi a deputada federal Maria do Rosário, pré-candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre. Ela tratou a “caravana federativa” como uma “ação política de P maiúsculo” e procurou fazer uma contraposição à gestão de Jair Bolsonaro.
- Rio de Janeiro: Gestores tiraram dúvidas sobre a próxima etapa do PAC, com possibilidade de investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura urbana, incluindo melhorias em favelas. Um dos discursar no evento foi o prefeito Eduardo Paes (PSD), que pretende disputar a reeleição e caminha para ter o apoio do PT.
- Reação: Presidente do PL, Valdemar Costa Neto recomendou aos filiados que não participem mais desses eventos. O partido abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro.
FONTE: O GLOBO
Leave a Reply