Por Nana Queiroz, da Revista Azmina
Não havia garantia de vida normal ou sequer de sobrevivência. Há 23 anos, quando Sílvia Almeida descobriu ser soropositiva, “era pegar o resultado, ir pra casa, ajoelhar e rezar”. E entre sacar a ampola de sangue e saber o resultado do exame, ela teve que esperar três meses durante os quais dormiu com as angústias de que talvez ela e os filhos, como o marido, fossem portadores do vírus do HIV.
“Pra mim, o preconceito que eu iria enfrentar nem entrava na conta. Eu tinha que sobreviver, pelos meus filhos. Mas, para algumas pessoas, o preconceito é o mais insuportável”, comenta ela que, hoje, aos 53 anos, é consultora em prevenção ao HIV e à AIDS. “Na hora de receber o resultado de um teste de HIV, cada pessoa é um universo.”
Nesta semana, Sílvia terá que ajudar as pessoas a lidar com um desafio diferente do que ela enfrentou: chega hoje ao Brasil o primeiro teste de HIV de farmácia aprovado pela Anvisa. E com ele, vêm os desafios de se descobrir, sozinho e sem acolhimento, ser portador de um vírus ainda cercado de estigmas.
Enquanto a Organização Mundial da Saúde vê o teste como um avanço na prevenção ao HIV, alguns especialistas têm olhado para o exame com receio: afinal, o que garante que as pessoas, após receberem o resultado, buscarão um tratamento adequado? Será que elas entenderão que as perspectivas de vida já são muito boas ou vão ceder ao desespero e à depressão?
“Quem faz o teste de farmácia precisa entender que o diagnóstico não é o final da vida, mas um recomeço”, pondera Sílvia.
“Eu trabalho em um centro de testagem e, mesmo dando a notícia com todo o cuidado e capacitação, pego casos de pessoas que são encaminhadas para tratamento e nunca aparecem – chegam até a mudar o número de telefone para não serem encontrados. Imagine se recebessem a notícia sem nem mesmo esse acompanhamento?”
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