Por: Alexandre Lyrio
Há pelo menos três semanas, chove em cidades como Euclides da Cunha, Uauá, Jeremoabo, Queimadas, Cansanção, Monte Santo, Tucano e na própria Canudos
As ossadas à beira da estrada talvez sejam a imagem mais simbólica da seca. Na região conhecida como Sertão de Canudos, por onde o CORREIO passou no final da última semana, avistamos dezenas delas. Mas, mesmo nesses cenários sombrios, havia vida. Curiosamente, alguma grama despontava entre os cemitérios da estiagem. A explicação? Simples. Tem chovido no sertão.
Há pelo menos três semanas, chove em cidades como Euclides da Cunha, Uauá, Jeremoabo, Queimadas, Cansanção, Monte Santo, Tucano e na própria Canudos. As ossadas são velhas, do período em que a seca judiava mais. É verdade que se trata de uma chuva fina, insuficiente para encher os grandes açudes. Mas, mesmo em pouca quantidade, ela já transforma a paisagem e alimenta os bichos.
É bonito de ver a vegetação verdinha ressurgindo nas paragens. Plantar ainda é difícil. Mas gado mesmo não tem morrido mais nenhum por aquelas bandas. “Essa chuva de Inverno não junta água, não resolve o problema, mas ameniza muito. Só o fato de ter o que dar de comer e beber para os animais”, afirmou o prefeito de Canudos, Genário Rabelo.
Na localidade de Barriguda, distrito de Canudos, uma pequena represa nos fundos da casa de Maurício Pereira dos Santos, 71 anos, encheu alguns centímetros. O suficiente para matar a sede das quatro cabras que sobraram das 150 que seu Maurício, pai de 16 filhos, chegou a criar antes da estiagem. O capim renasceu. “Achei que já tinha morrido tudo, mas veio essa água boa aí e ele vingou”.
Com alguma comida, as cabeças de gado que não morreram começam a recuperar o vigor. Em algumas propriedades, principalmente aquelas com açudes, estão até gordinhas. Na zona rural de Euclides da Cunha, Teninho da Lima Santos, 31 anos, pastoreava oito ovelhas, feliz com a fartura de capim e a chuva. “Perdi 30 cabeças com a seca. Tomara a chuva firme. Duas semanas de sol volta tudo como estava”, disse Teninho.
Apostar em plantações traz o risco de perder tudo. Mas alguns agricultores são ousados, como José Dias, 67 anos. Debaixo da chuva fraquinha, resolveu plantar milho e sorgo em parte de um terreno que divide com outro proprietário, em Canudos. “Se essa chuva boa continuar, o pé de milho começa a aparecer em uma semana”, confia.
Ontem, não choveu na região. Mas, a partir de amanhã, o serviço Climatempo já prevê o aumento de nuvens e pancadas de chuva à tarde e à noite. Na quinta-feira, chove a qualquer hora no sertão. Agora é torcer para o tempo continuar assim. Aí sim o Açude do Cocorobó, que hoje está com 20% de sua capacidade e teve seu nível d’água rebaixado em 11 metros, pode voltar a “sangrar”. É como dizem os canudenses quando ele transborda.
“Para resolver o problema, só chuva de trovoada. Mas isso só vai acontecer, se acontecer, lá para novembro”, diz José Américo Amorim, 47 anos. Com as palmas e mandacarus florescendo, para o sertanejo resta fazer o mesmo que fazia com a seca braba. Rezar.
Fonte: Correio da Bahia
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