Coluna A Tarde: Corrupção deslavada

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Por: Samuel Celestino

Uma pauta jornalística concebida com competência e realizada por um repórter consciente do seu significado e repercussão, se tudo desse certo – como deu -, abalou o País a partir da sua divulgação que começou em “Fantástico,” da Globo. Ganhou força na mídia de maneira geral.  O estarrecimento da população é sincero por desconhecer tais procedimentos, mas não o das autoridades dos três poderes. Elas sabem, perfeitamente, –inclusive os órgãos investigadores- que esta República é movida, em parte, pela corrupção abjeta que está presente em quase todas as atividades econômicas que envolvem o dinheiro público.

No Brasil se corrompe da base à cúpula da atividade pública. Difícil, presume-se, alguém permanecer íntegro. Nesta República, generaliza-se em suas três esferas, União, estados e municípios. É do conhecimento geral (menos do povo) e, pior, se banalizou de tal maneira que a punição passou a ser exceção. Na verdade, a punição praticamente inexiste. Observe-se o que está ocorrer com o escândalo do mensalão, que balançou o primeiro governo Lula. Foi em 2005 e parte dos crimes pode prescrever. Está presente em todas as modalidades de contratação para prestar serviços ou fornecimento a órgãos públicos, ou lá o que seja. As licitações são forjadas (inclusive as eletrônicas) e os convites feitos (outra modalidade de contratos) à empresas escolhidas a ponta de dedo.

    
Quantos foram punidos no Brasil, que se tenha notícia até hoje? Poucos, pouquíssimos. O Brasil nada mais é do que um grande ralo público por onde escoa o dinheiro recolhido a partir de uma carga tributária extorsiva, indecente, perversa. Acontece também na atividade privada, em escala imensamente menor. A forma mostrada pela Globo é uma das mais antigas: empresas são convidadas a participar de procedimentos exclusivamente para perder, num processo rotativo entre elas que funciona de forma alternativa: perde-se uma, ganha-se outra, mudando-se apenas a posição das empresas-atores que de ativas passam a passivas e vice-versa.
       

No Executivo é coisa antiga, de igual modo no Legislativo. No Judiciário, era até pouco tempo uma caixa preta. Pouco se sabia, a não ser falatório. A ministra Eliana Calmon usou pé-de-cabra para abri-lo. Lutou contra o corporativismo, usou palavras duras como “magistrados bandidos” e expôs o processo de venda de sentenças, uma das formas mais vis de enlamear a justiça. Boa parte dos bons magistrados ainda estão silenciosos, mas, com o tempo, eles próprios farão a limpeza que o Judiciário, expurgando os maus.       

A reportagem chocou. A sujeira está em todo canto, principalmente no serviço público. É necessário que se fique atento às licitações. Seria importante que se constituíssem mecanismos sérios para fiscalizá-las. Porque, em boa parte quem determina o vencedor é a propina.     

Publicado no Jornal ATARDE- Edição de 22/03/2012

 

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