Coluna A Tarde: Dirceu é ou não criminoso?

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Por: Samuel Celestino 

Se houvesse um consulta nacional para mensurar a reação dos brasileiros sobre o desenlace do julgamento dos mensaleiros pelo Supremo Tribunal Federal, que condenou a maioria deles, seguramente opinião pública aplaudiria. Não se pode desejar que os petistas tivessem tal posição e também aplaudissem. Pelo contrário, muitos choramingam e consideram as penas pesadas. O ex-presidente Lula preferiu silenciar a dar opinião, até porque, figuras do bando que se consideravam inatingíveis e aureoladas, se surpreenderam, a partir de determinado ponto do julgamento. Cito José Dirceu, para fixar apenas um deles, embora o mais proeminente. Se Lula evitou se pronunciar, aqui o governador Jaques Wagner não somente considerou as penas elevadas, mas, ainda, discorda que Dirceu e seu bando sejam criminosos. Ora, eles são o que, então? Santos? Querubins? Se cometeram crimes; se desviaram recursos públicos; se orientaram a festa de Ali Babá para favorecer o PT;  se tinham a senha do abre-te sésamo, o que seriam, então?  

        O Supremo Tribunal Federal só não foi inteiramente perfeito no julgamento porque houve ministros que pagaram com posicionamentos no processo a nomeação deles para a corte. Mas ficaram com a imagem manchada, um deles demonstrou até despreparo para ocupar o STF. Pena que o presidente do colegiado, Carlos Ayres de Britto, foi aposentado a partir deste domingo por completar 70 anos. Ele foi perfeito e sereno na condução da corte, assim como se posicionaram a maioria dos integrantes. 

        A decisão encontrou ampla repercussão no exterior, melhorando a imagem do Brasil, tido como um país com elevado índice de corrupção. Lá fora houve aplausos e aqui dentro também. As penas aplicadas podem estar demonstrando que o País não está, de todo, mergulhado na lama, mas, tem ainda salvação, especialmente com relação aqueles que ocupam cargos públicos e eletivos. Se melhorou, e muito, nesse aspecto, em relação a outros, como os partidos políticos, observaram-se cenas inimagináveis, como os abraços entre Lula e Maluf para obter mais força para eleger o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que tem um significado positivo. Afinal, começa, de maneira torta, um processo de renovação que determinará a retirada de velhos políticos, raposas sem escrúpulos, oligarcas empalhados por taxadermistas, enfim esse rebotalho herança de outros tempos, com pouco (talvez não) espaço para se movimentar no cenário político brasileiro. 

        O Supremo acenou para outro horizonte. Dizimou o bando de mensaleiros que se imaginavam impunes e acendeu um alerta para políticos novos, mas abertamente descarados. Valeu para que houvesse aplausos aqui e no exterior, a postura séria do Ministério Público que emergiu das cinzas com a Constituição de 1988. O respeitável trabalho do MP, sem esquecer a postura firme da imprensa, não a imprensa chapa branca, abriu espaços para uma nova realidade no Brasil (espera-se) com posturas determinantes. O Judiciário começou a se enxergar depois das ações seguidas do Conselho Nacional de Justiça, que passou a exigir ações firmes, como acontece, alias, em relação ao comércio de crianças em Monte Santo, no interior baiano. Nesse caso, é o tipo do crime que, se provado, não merece a menor complacência. A opinião pública sabia do que acontecia, mas as autoridades fechavam os olhos. 

        Ao mesmo tempo –reparem que o momento é propício- a imprensa voltou a sua artilharia para o que acontece no aparelho policial brasileiro onde as execuções são normais e os grupos de extermínio, com participação de políticos, agem de forma quase aberta. Nesse aspecto, o Brasil experimenta uma guerra que se distancia, apenas, do que acontece no México, sempre com o envolvimento dos narcotráficantes. As condenações do Supremo, mesmo que a legislação penal permita a diminuição de penas, são exemplares. 

        Todos os que participaram são criminosos. Não há outra palavra para adjetivá-los. Com relação a José Dirceu, se não houver anistia (que ele arquiteta) cumprirá a sua pena, de forma fechada e posteriormente aberta. Depois dos dez anos e 10 meses, começará a contar o período em que ele ficará com seus direitos políticos suspensos por oito anos. Com a idade que no momento tem, terá direito a se candidatar com 85 anos de idade. Como a tecnologia médica avança e o brasileiro passa a viver mais, talvez haja um mandato para ele no final do túnel. 

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (18) 

 

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